APEGO: Killa Bi e Janvi apresentam single melódico que reflete sobre as nossas relações

Em sua primeira lovesong lançada, Killa Bi combina sua voz grave com os agudos de Janvi, em uma faixa repleta de poesia e reflexão sobre o apego

por Gustavo Silva

Quem acompanha a trajetória da Killa Bi, sabe o potencial e o tom da caneta da MC, que sempre descarrega versos fortes e agressivos em suas linhas, empilhando barras do Boombap ao Drill, característica essa que destacou a atuação da MC e ampliou o seu reconhecimento pelo público em geral. Mas e que tal a Killa Bi pulando em uma lovesong?

Camadas de Killa Bi

É assim que ela chega em “APEGO”, faixa lançada com participação de Janvi, que marca a estreia pública de Killa Bi nessa sonoridade mais poética e melódica, mostrando que a versatilidade e qualidade da caneta e da voz da MC, vai muito além das rimas pesadas que estamos costumados a ouvir, criando muita poesia, e combinando diferentes tons em uma faixa profunda sobre nossas relações.

“Esse é o primeiro lovesong que eu lanço, trago melodias, canto e etc. Mas não é o primeiro que eu componho e gravo. Ando sentindo falta de falar sobre outros temas já faz mais de um ano, afinal a gente escreve e canta o que vive, seria impossível falar sobre o mesmo tema a vida toda. Está sendo libertador poder acessar esse espaço em mim. Sinto que estou conhecendo mais a fundo a Killa Bi, realizando trabalhos como esse. E quero apresentar todas essas camadas a quem me escuta.

A faixa nasceu de uma maneira bem espontânea, eu não pensei em falar sobre o tema apego, sobre o tema término de relação e nem sobre nada disso. Só depois dela pronta, que eu parei de tratar ela como uma faixa de bom refrão apenas, que eu dei a importância que ela merecia, inclusive pensei em lançar. Porque tem uma qualidade sonora, de fato eu gosto muito do que a gente fez ali, mas eu acho que é mais que isso, é o nosso inconsciente trabalhando também. Ouvindo depois eu fiquei feliz que eu tô pensando tudo isso, que eu tô falando sobre isso, que eu tô observando essas coisas, que eu sei o que eu não quero e tô descobrindo o que eu quero. É referente às relações, para além das relações afetivas, não perder essa individualidade, conseguir ser leal, conseguir estar junto e continuar sendo eu”. – Killa Bi

“Dependente afetivamente, ácido e duro

Imaturo, inseguro e necessário

Descoberto amor romântico, ultrapassado

Tudo fechado, me falta ar pra respirar

E eu, preciso voar”

Killa Bi – APEGO

Killa sempre mostrou uma caneta bem pessoal, falando sobre seus corres e trajetórias, artísticas e pessoais, mas nesse trabalho ela traz algo ainda mais seu, falando de sentimentos e fragilidades, expondo outro lado seu para o seu público. Uma mudança de ares e temas na sua música, que reflete também o amadurecimento da sua caminhada pessoal e artística.

“Eu sentia falta de poder me mostrar frágil e vulnerável em minhas composições, pois é assim que me sinto muitas vezes. Comecei a compor sobre esses temas mais delicados e profundos na intenção apenas de não me afogar no meio de tanta água. Acredito que essa mudança de tema é comum na vida de uma compositora, pelo fato de que a gente vive mil coisas no dia a dia, e com certeza parte de toda vivência, vira música. Pretendo ser cada vez mais honesta e sincera com meus projetos. Sem me preocupar com tendências. Estou nesse momento questionando a forma como nos relacionamos, é um assunto que tá presente na minha vida, no agora, em rodas de amigos, mesa de bar, na minha casa e enfim, naturalmente vira música os temas do cotidiano. Acredito que esse tema ‘relação’ seja um tema universal, todos nós nos relacionamos. Independente de quem somos, de onde viemos, do nosso gênero, nós nos relacionamos. Seja com familiar, seja com amigo, colegas de profissão, ou relacionamentos afetivos.

Eu acho que o romantismo, que é colocado em volta de todas as relações, prejudica muito nós como pessoas, como individual, acho que a gente vive num loop de agradar, de suprir as expectativas de outra pessoa e acaba se deixando de lado. O ‘APEGO’ fala mais sobre a relação afetiva que é essa confusão que o romantismo traz pra gente, de achar que essa é a forma certa de amar, que é assim que se ama e nos afasta de nós mesmos. Eu quero tá bem juntinho de mim, se for pra tá apegada a alguém ou em alguma coisa que seja a mim mesma.” – Killa Bi

Combinando vozes com Janvi

Além da grande performance de Killa, esse som traz também a ótima presença da Janvi, que apresenta um outro tom sonoro para a faixa, criando uma linda combinação de vozes, equilibrando um tom mais grave com uma sonoridade mais aguda, e com uma caneta bem direta sem perder o lado poético da faixa, que rendeu uma ótima conexão e entrega entre as artistas.

“Encontrar Janvi foi um presente. Na nossa primeira sessão de estúdio nasceu uma música, e com esse mesmo tema, esse mesmo universo. Janvi fala sobre absolutamente tudo de maneira muito poética, sincera e contagiante. A energia e bom humor sagitariano de Janvi, com certeza combina muito comigo. Essa faixa foi a terceira que fizemos, e flui como as outras duas também. Ouvindo o beat no repeat, conversando sobre a vida, até que nasce a primeira frase, ou a primeira linha de melodia e daí só flui. Janvi é livre demais, pra criar, mudar e fazer de novo. Gosto muito desse desapego artístico, me potencializa muito ver ela criar. E daí tem o lance da voz, que foi isso, combinou muito com meu timbre. Ficou simplesmente muito fácil criar refrão, rs. E meu grave com o agudo de Janvi, é lindo. Vocês precisam ouvir.” – Killa Bi

Além da escrita e entrega vocal das artistas, que nos leva para um contexto mais introspectivo e sentimental, a produção da faixa chegou muito bem cadenciada, combinando elementos sonoros diversos, com batidas marcantes que ampliam e nos levam ainda mais para esse ambiente melódico e poético proposto pelo som, que encaixa muito bem com as performances de Killa e Janvi.

“A produção musical foi feita pelo gad, um amigo nosso e beatmaker, de São José dos Campos, ele faz parte do coletivo Viva Sua Revolução, onde tem vários artistas importantes pra cena underground do Vale. Janvi tava com esse beat mocado no drive dela, numa sessão aqui em casa, ouvindo várias coisas, a gente chegou nele. Tocou uma vez e depois não tocou mais nada. A gente não precisou nem mapear o beat, do jeito que tava, gravamos e botamos pra andar. Gad acertou muito. Depois enviamos pro Ramiro mixar e masterizar o que gravamos. Mandei aquela referência de volumes, uns três áudios de dois minutos explicando a proposta do som e fé! Assim nasce ‘APEGO’.”

As cores do APEGO

Mantendo a atenção e o cuidado audiovisual com seus trabalhos, como feito nos seus últimos lançamentos, Killa Bi traz para “APEGO” uma relação visual fortemente ligada com a temática do som.

“A parte visual desse single vem um pouco diferente do que vinha trazendo. Eu queria ir de acordo com o som, e tratar das imagens de maneira mais introspectiva e simples. Optei pelo preto e branco, porque acredito que o sentimento ‘apego’ deixa as coisas meio assim, binárias, duais, limitadas, com pouca variedade de cor. Bruno Cons passou uns dias comigo, conversando sobre o single e captando imagens do cotidiano. Minha ideia era trazer a música pra perto de nós. Queria mostrar movimentações do dia a dia, de pessoas simples, pessoas reais, assim como nós. Pessoas que amam, erram, acertam, começam, terminam, se apegam, choram, machucam, destrói, constrói, pessoas que são pessoas e só. Não queria uma performance pra câmera, nem uma ‘atuação’ ou algo do tipo. Eu queria algo simples como se apegar. Preto e branco como é estar apegado. Escolher a capa foi fácil, tava visitando as fotos do Vini Gon, e vi aquela mão contra o vidro, me deu uma sensação de estar presa, e eu pensei, essa é a capa de ‘APEGO’. Falei com o Vini e fizemos da foto a capa. Resolvi não colocar nem o nome da faixa na capa. Só a foto e pronto. Quero te chamar pra pensar sobre, quero que você crie sua maneira de pensar sobre esse assunto. Quero que interprete à sua maneira, a minha dor, a minha exposição ou falta dela.

A faixa “APEGO” de Killa Bi e Janvi, já está disponível nas principais plataformas de streaming, e o clipe pode ser conferido no canal da Killa Bi, no YouTube.

“‘APEGO’ fala sobre muita coisa, sobre as expectativas que nós mesmos nos colocamos. Muitas das coisas faladas ali é pra mim mesma, é uma armadilha que qualquer um pode cair, tem que estar atenta, ligeira e disposta a falar sobre, a cutucar as feridas e lamber depois. Não é nem um pouco confortável entender o que é o apego, o que isso traz de bom e de ruim, porque é tão difícil lidar com certas coisas quando ele está presente. Viver no apego é dar margem pra um monte de coisa que não é daora pra nós, não é saudável, e não é nosso. São pensamentos e culturas colonizadoras que nasceram com o grande intuito de controlar a nós. Principalmente corpos racializades.” – Killa Bi

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