Por Anna Luiza
No último dia 15, os manauaras Mayer e João Alquímico lançaram o álbum Reginaldo Rossi LoveTape VI. 1, que conta com participação de Victor Xamã e a marca de produtores como DK e RVL$. A inspiração lírica no forró e música brega faz justiça aos hits do pernambucano Rei do Brega.
O projeto, idealizado pelos rappers, utiliza de inspirações em suas vivências amorosas e gêneros distintos para a criação de uma mixtape de love songs. A dupla tem como objetivo transformar a LoveTape em trabalho de vários volumes e contar com maior participação de outros artistas.
As seis faixas rodeiam o aspecto do amor e isso transparece na ambientação das tracks.
O legado de cantores românticos como Tim Maia e Rossi na música é visível na composição desde o momento em que “Fode” começa, com os pássaros ao fundo e enaltecimento da parceira remetem ao romantismo e a figura de Vênus, deusa do amor na mitologia grega. A ligação mulher-natureza é recorrente, uma vez que o ser mulher é atrelado à geração de filhos e, assim, a continuação e evolução da humanidade, e, nessa lógica, pode-se também pensar em Gaia, a qual o nome significa Terra, gerou os deuses. A mulher é tudo, um absurdo, inevitável, um exagero.
“Não demora” é uma ballad que escancara a inspiração da dupla no Rei do Brega, ao mesmo tempo em que traz uma atmosfera R&B. A canção parece ser sobre uma antiga parceira, a melancolia romântica da música é um contraponto com a anterior, que exalta a amante amplamente. A mudança de perspectiva é interessante. “Fode” poderia ser vista como o início do relacionamento, e “Não demora” como o término, retratando a falta que ela faz.
“Amanheceu Nublado” é — o álbum leva a crer, devido à ordem da tracklist — a continuação dessa história. Uma sequência de potências inegáveis, e é, possivelmente, o maior destaque do LoveTape. A lírica somada à ambientação entrega uma track envolvente, reveladora e intensa. É o momento ultrarromântico do disco, a letra é visceral, sem rodeios. O potencial da música não deve ter passado despercebido, já que é a única do álbum a contar com um clipe.
“Luz Azul” apresenta uma mudança na segunda metade da canção, sem esconder a desilusão amorosa completa e o quão desolador é o sentimento do coração partido. O trecho “encontrei a parte humana do inferno” exemplifica a revolta e o desgosto que a situação traz, enquanto não consegue evitar correr atrás dessa pessoa que causou tanta dor ou reviver esses momentos.
O momento mais melódico do disco vem em “Longe”, onde a melancolia toma conta por completo ao retratar o gradual distanciamento entre as pessoas em um relacionamento desgastado. O foco na ambientação é menor, o destaque da track é o flow e a intensidade da letra, como exemplifica o trecho “não adianta falar que tu vai voltar, não dá pra negar”.
O fim do álbum é uma visão positiva em “Coincidência”, ao contrário das músicas anteriores. Entretanto, nos últimos instantes da canção, a melancolia volta e termina vitoriosa. É um pouco cansativa, a música se estende em repetições e distorções ao final, provavelmente para causar um impacto de encerramento de disco, mas não tira o mérito da tracklist. “Coincidência” é uma boa música, porém funcionaria melhor como um single do que como parte de uma sequência coesa de um álbum.
De referências mais recentes do rap nacional, é possível traçar um paralelo com True Religion, disco de 2019 do paulista Yung Buda. A influência de Buda parece ser incorporada no beat e ambientações das tracks, o que não é um ponto negativo, uma vez que foi adaptada para o propósito de tratar de relações amorosas. O disco mantém instrumentais mais eletrônicos que chegam a lembrar ao hyperpop da americana blackwinterwells, uma surpresa positiva, principalmente em “Luz Azul”.
melancólicas sobre amor de Reginaldo Rossi. A mistura de gêneros e influências é feita com maestria, e assim, Mayer e João Alquímico iniciam um projeto que deve gerar grandes frutos e ter diversas sequências.