Atualizado: 20 de Set de 2020
por Gustavo Silva
MV Hemp é arte-educador, poeta, pesquisador musical, ativista multimídia e produtor cultural. Desde 2002 ele vem junto ao Comando Selva realizando pesquisas, projetos e intervenções sonoras e visuais em favelas de todo o Brasil. Explorando elementos da cultura regional e de rua, como graffiti, poesia, pichação, beats, rodas de rima e rodas de conversa, ele busca trabalhar novos formatos para manter a memória das periferias do Brasil cada vez mais viva.
Filho de um pai baiano, e mãe carioca, MV Hemp sempre esteve rodeado pela música:
“A família da minha mãe tem origem no subúrbio carioca nos bairros de Rocha Miranda, Madureira, então sempre teve presente na minha vida o samba de raíz, as baterias de escolas de samba que ensaiavam nas ruas, o jongo da serrinha, os corais das igrejas, além de um tio meu que colecionava vinil de rock, jazz, reggae, dancehall e por aí começou minha pira musical, de uma forma bem eclética”.
MV Hemp insiste que as vielas das periferias são as galerias de arte mais orgânicas, mais vivas, e pensando nisso criou também a rede Ambulante Cultural. Com esse projeto já passou por Porto Alegre, Pernambuco, Bahia, Juiz de Fora, Curitiba, Brasília, São Paulo, Goiás, Belo Horizonte, e outras várias regiões do país, realizando encontros de formação da rede de ambulantes culturais, promovendo vivências e ações culturais.
Nessas viagens, visitou favelas em que o Estado não atende à população em serviços básicos, como saúde, saneamento básico e segurança pública. Esses lugares, geralmente vistos pela sociedade como áreas de risco, para MV Hemp são áreas com conteúdos históricos riquíssimos, transmitidos pela oralidade, lugares que devem ser preservados para as novas gerações, para que estas consigam compreender as várias faces do país.
“Já cantei em corais de igreja na adolescência e sempre curti cantar, mas foi em 1997, com vários shows rolando no RJ, que comecei a mandar as primeiras rimas. Em 2003 comecei a gravar algumas tracks experimentais com a galera do Comando Selva, e por lá gravamos umas fitas k7’s bem experimentais, ouvindo uns dubs e raps e depois a parada foi fluindo com vários sons e conexões com vários produtores pelo Brasil”, explicou MV Hemp.
Com o Ambulante Cultural, MV Hemp cria galerias a céu aberto como espaços de exposição e preservação dessas memórias locais. Espaços onde podem ser realizadas oficinas de formação da rede de ambulantes culturais para jovens multiplicadores, trabalhando com ferramentas multimídia e usando elementos da cultura de rua como estratégia para manter viva a memória dessas periferias com poucos recursos.
O importante trabalho com o Ambulante Cultural, e as vivências com o Comando Selva, creditam a nomes como o de MV Hemp um papel essencial na afirmação, sobrevivência e evolução da cultura do Hip Hop nacional.
Recentemente uma parceria entre o artista e a Straditerra, fez nascer um trabalho de extrema originalidade e harmonia, destacando todo o repertório artístico de MV Hemp, junto ao domínio audiovisual de Rômulo Spuri aka @spurimaker, com a beattape Strada da Selva.
“O coletivo Comando Selva fez parte da minha formação no Rap. Na época, que as informações circulavam mais em blogs e também em comunidades do Orkut, eu sempre buscava estar por ali atento nas cenas underground, e quando cheguei na pesquisa da carioca, logo esbarrei Comando Selva, e identifiquei de cara, com a proposta, a postura, os integrantes e de lá pra cá sempre foi admiração total” comenta Spuri.
Recentemente Spuri e Mv Hemp começaram a se comunicar e a admiração mutua dos trabalhos feito pelos produtores foi a chave do projeto Strada da Selva.
“MV Hemp foi se identificando com as nossas propostas, e rolou esse diálogo, essa aproximação, com muita reverência a esse nome que faz parte dos alicerces da nossa cena. Desse contato surgiu a ideia da beattape Strada da Selva”.
Spuri pensou na criação deste trabalho de uma forma diferente, buscando que a parte sonora da beattape fosse construída em cima do conteúdo visual.
“As imagens são de uma captação que eu fiz numa tarde em Alfenas (MG). Eu já tinha roteirizado esse material pra acompanhar uma futura beattape, mas que ainda não tinha um beatmaker escolhido. Na edição do vídeo eu me influenciei de gêneros e estilos musicais fora do tradicional, e trouxe o ritmo desses sons para a levada do vídeo, já pensando que ele seria a base para o artista que fosse trabalhar a parte sonora”.
Com a recente aproximação do MV Hemp, Spuri viu a oportunidade de trabalhar o material visual que já tinha pronto, que precisava da visão e da criação de um produtro musical.
“Ele abraçou essa ideia e o resultado desse trabalho é a beattape Strada da Selva, um trabalho criado de uma forma não muito convencional, mas certamente original e com um resultado extremamente harmônico”.
Em suas construções sonoras, MV Hemp tem o compromisso de buscar sempre algo novo, fora das formas padrões.
“Eu curto ser o mais eclético possível nesses recorte de samples, fugir o máximo possível do tradicional, pesquisar bastante música do mundo. Em geral eu curto bastante música experimental, samba, psicodelia pernambucana, musica africana, musica eletrônica dos anos 60, ruídos produzidos na rua. Dentro das comunidades o rap é uma plataforma bem livre pra esse exercício dessa experimentação misturando vários estilos, não sei definir se tenho um estilo e se tenho acho importante ele ser o mais livre o possível, amorfo!”.
Lançada no dia 02 de agosto, a beattape Strada da Selva está disponível no YouTube.
Ficha Técnica Beats: MV Hemp
Visual: Spuri Capa: Isa Hansen
Fotos: Zulufu