Amanhã, sábado, 16, o artista VNDROID lança seu videoclipe Meu Tempo
Meu Tempo faz parte de seu primeiro álbum oficial, o “Dopamina” (*voltou para as plataformas digitais essa semana, remasterizado) e agora recebeu uma leitura visual fantástica, que conversa e transmite com ainda mais intensidade os sentidos do músico, reforçando todo poderio de soma que o visual provoca.
Com uma grandiosa direção de arte + edição da Bruna Buccini, as imagens do VNDROID foram dirigidas, produzidas e captadas por um equipe também muito foda que teve Gabriel Nasser na direção, Thadeu Werneck na produção e Max Chagas na fotografia.
A produção musical foi realizada pelo próprio VNDROID.
Já com o material em mãos, enviamos para 4 artistas assistir e escrever uma análise da percepção após assistir a obra.
Esse time foi composto pelo produtor e cineasta Joaquim Macruz, a fotógrafa, artista de colagens e cinema Teo Velloso, o videomaker e baterista Paul Domingos e o rapper e pedagogo P.MC.
Análises sob óticas diferentes, mas todos embarcaram muito bem nessa viagem pelo clipe Meu Tempo. Confira:
Joaquim Macruz
(Cinema Fora de Cena, Cinema Vício, Jodo)
A primeira linha resume bem o conceito imediato da obra:
“Máquinas de guerra movidas a energia eólica”
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Vivemos em guerra! E é uma guerra moral, de conceitos hipócritas e paradoxais e o resultado disso é um número imenso de mortes! Sua obra é futurista, mas um futuro que estamos vivendo agora. Pessoas que em meio a uma pandemia, fazem manifestações na rua a favor da intervenção militar (???)
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A direção de arte, que provoca um identidade visual única, é impactante e me agrada muito. Durante todo o clipe vemos o rosto do artista em um fundo preto enquanto imagens sobrepostas que parecem retiradas de anime japonês dos anos 80/90 são misturadas com imagens do nosso cotidiano moderno que parecem um outro futuro tão bizarro quanto. Uma maneira muito massa de passar a identidade do VNDROID como principal elemento do clipe e ao mesmo tempo uma edição de efeitos especiais muito bem colocados no trabalho.
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VNDROID quebra nas linhas se diferenciando com um flow seco, revoltado em cima do beat, com samples de rock e atravessando numa rima bem direta e ao mesmo tempo com letras lúdicas.
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“Desenvolvendo a arquitetura digital /
Dessa nova conjuntura distrativa em que resido / Eu concretizo a criatura artificial / Quimera pós-moderna, nova era mesma merda”
Teo Velloso
O trabalho de VNDROID é único, caótico, esquizofrênico e ansioso, reflexo da sociedade capitalista que nos condiciona a tantos hábitos e atitudes que o artista questiona em suas letras.
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Misturando rap, rock e eletrônica, suas músicas se parecem mais manifestos: é impossível não ser cativado pela forma em que apresenta seus versos unidos à sua sonoridade única, deixando claro pro espectador o que tem a dizer.
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Através de uma estética cyberpunk e andrógena com doses de goticismo, VNDROID nos mergulha em sua autenticidade e áspera meditação existencial – da qual não podemos escapar nos tempos atuais.
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VNDROID é 2020 e além.
Paul Domingos
(Choko Freaks)
A atmosfera é de um antigo novo. Tanto no estilo visual quanto no sonoro. Conta com a consciência que estamos rodando em círculos, e a cada volta, um retrocesso. Futuro que faz tempo que não vai para lugar nenhum.
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O dedilhado em nota triste no começo é a cama que a melodia auto-destrutiva que “Hurt” pede, já avisando logo de cara onde estamos no metendo. Uma cabeça flutuante meio ao caos vestido numa estética visual anos 1980 com um sonoro moderno e esperto.
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A sequência de rimas dentro de um labirinto intelectual nos faz escolher entre acompanhar o raciocínio que beira o abstrato mas dentro da sua complexidade lógica, ou submergir na batida e deixar a mente ir buscar dentro da gente um quadro na nossa memória que a música foi parar.
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É um tipo de apneia sonora, onde mergulhamos num escuro denso e só no refrão conseguimos subir para tomar um ar antes de voltar para a segunda ainda mais explícita.
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Refletimos sobre o consumismo e um mundo descartável e sem intenção nenhuma de quebrar o ciclo redundante da história do mundo. “Hurt”, no final, se despede enquanto olhos nos encaram, como se agora a vez de assistir e tentar decifrar o que passa na nossa cabeça flutuante, fosse do artista.
P.MC
(Jigaboo, Jigarutz, Pé de Palavra)
Talvez eu não saiba responder sobre metafísica ou até mesmo sobre complexidades da robótica. Talvez eu nem entenda o que é pra ser compreendido.
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Nas minhas viagens por Freud pensei: será que ele explica o desabafo e as provocações de VNDROID?
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Ouvindo a track “Meu tempo” a sonoridade me atentou para algumas inquietações que saem da mente, direto para as estrofes e para os versos do VNDROID.
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Num misto de sensibilidade e representatividade nesse caos contemporâneo surge a sua identidade musical. Pra gente enfrentar as tretas, os traumas,os dramas do seu, do meu, do nosso tempo.
O tempo do VNDROID.
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