No cenário do Rap nacional, onde a crueza e a realidade frequentemente se entrelaçam, Souzera emerge com “Traumas e Medos”, uma obra visceral que explora as profundezas da angústia, cansaço e luto.
O artista, em colaboração com o produtor Noturno84, criou uma faixa que é tanto um desabafo quanto uma meditação poética sobre a condição humana, expondo, sem floreios, os sentimentos mais sombrios e complexos que carregamos. A produção, acompanhada por um videoclipe dirigido por Pedro Godoy, traduz visualmente o peso emocional e a sinceridade bruta da letra, transformando a faixa em uma vivência que transcende a música.
Em entrevista, Souzera revelou as motivações e o processo por trás de “Traumas e Medos”. Para ele, a angústia abordada na faixa é um reflexo das lutas diárias, tanto externas quanto internas, com um cansaço mental que transcende o físico e reverbera a frustração de sentir que, apesar dos sonhos, os dias parecem repetir-se em um ciclo de expectativas e decepções. Ele descreve sua jornada de composição como um processo de liberação, onde expressar esses sentimentos é a única saída para evitar a “explosão” emocional. “Todos temos angústia. A vida é angustiante”, declara, em uma frase que captura o cerne de sua mensagem.
Ao descrever a frase “A existência é átomo, inútil como o ácido que faz cócegas na minha lisergia,” ele elabora sobre o insignificante papel humano no vasto universo, onde existimos como “apenas uma pequena presença”, quase irrelevante. Essa reflexão ecoa no videoclipe, onde cada cena parece imbuída de uma melancolia atemporal.
A colaboração com Noturno84, produtor com quem Souzera já lançou quatro faixas, foi outro pilar essencial para “Traumas e Medos”. Embora o beat não tenha sido feito especificamente para a música, o artista encontrou nele a atmosfera ideal para o que desejava transmitir, levando o público para o estado emocional que ele almejava compartilhar. Essa conexão musical e emocional com Noturno e o entrosamento visual com Pedro Godoy (em seu terceiro trabalho juntos) criam uma harmonia artística que destaca a intimidade, autenticidade e a intensidade do trabalho.
Souzera reflete ainda sobre o impacto da perda e do luto em seu trabalho, enfatizando que esses temas são extraídos de experiências pessoais dolorosas, mas necessárias. Em “Traumas e Medos,” ele não apenas compartilha seu luto, mas propõe que é essencial abordar temas que nem sempre são “mil maravilhas,” mas sendo real com seus momentos e sentimentos é o que trás a autenticidade e maturidade para sua arte, sem precisar maquiar sua verdadeira face.
“Traumas e Medos” é uma obra que fala a todos que já enfrentaram dias difíceis, aqueles que sentem a vida como uma luta constante. Com sua entrega emocional e sua capacidade de traduzir sentimentos complexos em palavras, Souzera cria uma conexão genuína e intensa com o público, mostrando que, o Rap é casa para a sinceridade mais profunda.
Em “Traumas e Medos”, você explora a rotina de angústia e cansaço. De onde veio a inspiração para essa abordagem e o que queria transmitir ao público?
“Quando eu falo de angústia, esbarra na tecla de se expressar, eu como artista, rapper. Às vezes ficamos entalados com sentimentos e não nos expressamos, não colocamos pra fora. Então, a angústia nesse caso seria essa. Tem também a angústia de querermos buscar as coisas e parecer que não estão acontecendo, ou que não vão acontecer. A angústia de sonhar e parecer que estamos sempre no mesmo lugar, no mesmo ócio. E o cansaço não necessariamente seria o cansaço físico, mas o cansaço mental, que às vezes até essa angústia traz. O que quero transmitir para o público é que todos temos angústia. A vida é uma angústia, viver é angustiante. A gente é totalmente influenciado pelo que acontece ao nosso redor e isso cria angústia, e precisamos nos expor, nos expressar, porque, se não, acabamos explodindo.”
As linhas de “Traumas e Medos” são incrivelmente viscerais. Como é o seu processo de composição para uma música tão intensa? Há alguma técnica ou ritual específico que você segue?
“Antes eu me deixava levar muito pela inspiração, esperava a inspiração bater pra começar a escrever. Hoje, eu levo a composição como prática, sem ficar refém da inspiração. Porém, nessa música, eu realmente senti que estava inspirado e não deixei passar esse momento. Aproveitei ele para poder extrair ao máximo o que eu estava sentindo.”
Você menciona que, “A existência é átomo, inútil como o ácido que faz cócegas na minha lisergia.” Pode explicar o simbolismo por trás dessa frase?
“Realmente, nossa existência é átomo perante o universo, a dimensão dele. Apenas fazemos cócegas perante a dimensão do universo. Assim como o ácido faz cócegas na minha lisergia, é apenas cócega, nada mais que isso.”
O videoclipe, dirigido por Pedro Godoy, transmite visualmente o peso emocional da música. Como foi trabalhar com ele e qual é a mensagem visual que vocês queriam passar?
“Esse é o terceiro trabalho nosso, já estamos com o quarto encaminhado. Temos um entrosamento, uma sinergia, todas as ideias que eu e ele tivemos conseguimos unir de forma harmoniosa e extrair o melhor, conseguindo colocar em prática visual o que a prática mental e criativa da música gerou.”
Em algum momento da letra, você menciona a perda e o luto. Esse tema vem de experiências pessoais? Como ele impacta o seu trabalho artístico?
“Vem de experiências pessoais. Nesse trabalho em específico, impactou de uma maneira que, na hora que eu estava escrevendo, houve um desabafo. Essa é a palavra: desabafo, um pouco de raiva, ódio, angústia. Nesse trabalho, esse tema impactou dessa forma. Não adianta achar que tudo é mil maravilhas, esses assuntos também precisam ser abordados.”
A produção de Noturno84 foi fundamental para a sonoridade de “Traumas e Medos”. Como foi a colaboração com ele e o que você acredita que ele trouxe para a faixa?
“É uma honra, mais uma vez, rimar em uma produção dele. Essa é a quarta música que lanço em parceria com esse produtor que tanto admiro. Esse beat, em específico, não foi feito sob medida para esse som. Era um beat do catálogo dele e, quando eu fui ouvir o que tinha lá, vi que esse era o que faltava para o rap se materializar. Conseguiu trazer a atmosfera que eu buscava, para o que eu imaginava e pretendia passar. Caiu como uma luva.”
Quais são seus próximos passos após o lançamento de “Traumas e Medos”? Pretende seguir explorando esses temas ou busca uma nova direção para sua música?
“A ideia é, para 2025, lançar sons que já estão engatilhados. São sons diferentes no flow, nas ideias, no estilo do beat. Sons diferentes, mas que seguem a mesma proposta de enquanto eu como artista. E a ideia de soltar esses sons em 2025 é abrir o terreno para lançar meu EP em 2026 ou 2027. A ideia é chegar com trabalhos mais maduros, para preparar o terreno para um EP maduro.”