O lançamento de Bota Pra Torar, single que precede o aguardado EP Flamboiã, revela a grandiosidade artística de Jonas, O Macroplata. De Belo Horizonte para o Brasil, ele traz uma expressão sonora ousada que transita entre raízes culturais profundas e influências globais, oferecendo ao Rap nacional uma nova dimensão de brasilidade.
O Bota Pra Torar
“Bota Pra Torar” é uma faixa explosiva que une ritmo intenso e lirismo afiado, trazendo uma narrativa cheia de personalidade e referências culturais brasileiras. Desde a primeira linha, o som projeta uma atmosfera densa e visceral, com “fumaça densa” e um ritmo pulsante que impulsiona a música. A letra transporta o ouvinte para o universo de Jonas, onde ele incorpora imagens como a do “boi da cara preta” e figuras do folclore brasileiro como o Boitatá, além de elementos contemporâneos como referências a Hogwarts e Anitta. Tudo isso constrói um ambiente vívido e dinâmico.
A estrutura rítmica, marcada pelo refrão “bota pra torar, bota pra ferver,” intensifica a vibe festiva da música. As batidas remetem a uma balada energética, mas a letra vai além da simples festa: versos que contém fragmentos de “pérolas de sabedoria popular,” como o próprio Jonas descreve. Ele tece sua narrativa com um vocabulário que ora soa jocoso e irônico, ora reflexivo, e essa combinação transforma o som em algo que entretém e engaja, convidando o ouvinte a revisitar e descobrir novas camadas a cada audição.
Jonas conseguiu capturar a essência de um som para “curtir pelo ritmo” enquanto dá ao ouvinte uma experiência lírica rica. Há um senso de humor e um toque provocativo na forma como ele se compara a figuras fortes e bem-sucedidas, como um “Samurai Jack da pinga” e um “empresário de sucesso como Anitta.” Esse contraste entre a linguagem popular e as referências mais inusitadas é o que confere à faixa uma autenticidade envolvente.
Para a leitura audiovisual, Jonas mais uma vez convocou @shotbybzk, que já compreende profundamente seu conceito artístico e traduz essa visão com precisão nas telas.
Antonio André: O Produtor por Trás do Som
A conexão de Jonas com o produtor Antonio André é essencial para dar vida ao universo sonoro não apenas de “Bota pra Torar”, como de todo o EP “Flamboiã“. Jonas descreve Antonio como seu “tradutor sonoro”, alguém que consegue materializar as complexas ideias musicais que o rapper traz para o estúdio. “Eu falo em metáforas, e ele transforma em música,” explica Jonas, referindo-se ao produtor como seu parceiro de criação. Essa parceria resulta em faixas que transitam entre a introspecção e a explosão rítmica, misturando o peso das batidas com texturas sofisticadas.
Em “Bota Pra Torar”, essa fusão é evidente. A faixa oscila entre momentos de puro groove e versos densos, que convidam o ouvinte a refletir enquanto se entrega ao ritmo. Jonas e Antonio conseguem, juntos, criar uma obra sonora que é tanto visceral quanto cerebral, equilibrando a urgência das batidas com letras que são pura poesia urbana.
A Arte Visual: Aquarelas de Efe Godoy
A capa do single e também do EP, assinada pela artista Efe Godoy, complementa a proposta de Flamboiã de maneira magistral. Com a técnica da aquarela, Efe criou uma imagem que une o orgânico e o abstrato, dialogando com a essência musical de Jonas. “Escolhi a Efe porque sua arte carrega o mesmo sincretismo que trago na minha música: é brasileira, mas absorve o mundo,” comenta Jonas. A imagem é uma metáfora visual para a fusão entre natureza e cultura, entre raízes e modernidade, refletindo os sons em um nível visual que amplifica a experiência do ouvinte.
Palavra e Ritmo: A Busca de Jonas por um Vocabulário Inédito
Jonas é mais do que um rapper; ele é um poeta obcecado pela língua portuguesa. Sua missão é clara: “zerar” o idioma, explorando cada palavra até o limite, numa tentativa de criar algo único e profundo. “Quando uso uma palavra, ela deixa de existir para novas composições,” revela o artista. Cada escolha é minuciosa, cada termo carrega significados ocultos, e seu objetivo é expressar o que ainda não foi dito, com uma brasilidade que só quem vive a cultura das ruas pode traduzir.
Essa paixão pela língua se reflete em Bota Pra Torar, onde o jogo de palavras vai além do ritmo e da rima, atingindo camadas de significado que só se revelam a quem se permite mergulhar na música. “Minha escrita é a nossa voz, é a língua que ouvi nos becos de BH e nas conversas familiares. Ela fala o que é ser brasileiro,” diz Jonas, destacando que seu trabalho é uma celebração da fala popular, das gírias, das expressões que ele ouviu desde a infância.
O Bota Pra Torar
Para Jonas, ser artista é promover a cultura nacional, e ele faz isso absorvendo o novo, mas com um pé firme nas tradições brasileiras. “A música precisa captar influências externas, mas sempre honrando nossa essência,” afirma ele. Jonas acredita que nesse caso o sincretismo chega como um processo enriquecedor, e não predatório, reforçando a identidade brasileira em cada rima e cada batida.
Comédia e Tragédia em Equilíbrio
O artista acredita que uma boa música de Rap deve equilibrar a diversão com a reflexão. “A música pode ser dançante e profunda ao mesmo tempo. Eu quero que as pessoas curtam o som, mas que também encontrem algo que as faça pensar,” explica ele. Bota Pra Torar é a essência dessa filosofia: uma faixa para dançar, mas também para escutar com atenção, um convite à diversão que guarda surpresas e mensagens.
Os galhos de uma Flamboiã que em breve vai florir
O título Flamboiã simboliza perfeitamente sua música: a árvore originária de Madagascar, que se enraizou no Brasil a ponto de fazer parte de nossas paisagens e do nosso imaginário, representa a mistura entre o estrangeiro e o brasileiro. “Minha música é como o Flamboiã: uma fusão que absorve influências de fora, mas com raízes profundas na cultura nacional. Ela se nutre de elementos globais, mas é intrinsecamente brasileira,” comenta Jonas. Esse conceito é sentido em cada faixa do EP, que transita entre o tradicional e o inovador, trazendo ao Rap uma nova camada de sofisticação e que em Bota Pra Torar deu pra sentir o gosto do que vem por ai.