Single, EP, Álbum: qual o melhor formato para o seu próximo som?

Vários formatos e lógicas de lançamento musical cresceram com os streamings. Neste texto buscamos ajudar os artistas a compreenderem um pouco mais esse cenário, para escolherem com tranquilidade qual o melhor formato para o seu próximo lançamento.

por Gustavo Silva

A ideia deste texto surgiu a partir de debates e reflexões que vemos surgir entre os artistas e profissionais da música nas redes sociais sobre o que vale mais no cenário musical hoje: fazer lançamentos de projetos menores e mais constantes, como singles, às vezes até acompanhados de um videoclipe, ou vale mais a pena investir em projetos maiores, apostar na construção de um conceito através de EPs e Álbuns?

Constância x Conceito

Somente o banco de dados do Spotify recebe, diariamente, mais de 40 mil novas músicas. Se incluirmos todas as outras plataformas de streaming nesse cálculo é possível que esse número chegue à casa de centenas de milhares de lançamentos diários nas plataformas ao redor do mundo.

Nesse cenário, é assustador pensar na disputa de atenção que é gerada entre os artistas por um play do público em meio a tanta informação, e assumimos que não há uma resposta garantida, uma fórmula do sucesso para fazer o seu lançamento brilhar mais aos ouvidos do público em meio a essa avalanche de conteúdo. Mas existem estratégias e lógicas que conversam melhor com cada trabalho e a trajetória de cada artista e é sobre isso que vamos falar por aqui.

Esse embate entre apostar em constância ou conceito não é recente e se trata muito mais de uma questão acerca das intenções, perspectivas e discernimentos do próprio artista sobre o seu trabalho, seu público, seu momento, sua ambição artística e de carreira. Se o artista está mirando diretamente nesta realidade dos números dos streamings, a constância através de projetos menores é certamente o melhor caminho. No entanto, se a visão do artista está voltada para um longo termo, para consolidar um trabalho, contar uma história, construir um conceito, projetos maiores cumprem melhor esse papel.

Mas antes de nos aprofundarmos em cada um dos formatos que podem ser trabalhados como o seu próximo lançamento musical, vamos entender um pouco melhor como chegamos a essa realidade na indústria musical.

A nova lógica dos lançamentos

Durante grande parte do século XX, o processo de lançamento musical dos artistas era desenvolvido em um tempo maior e numa velocidade mais lenta, geralmente com lançamentos pequenos, poucos singles durante o ano, que antecipavam um álbum ou projeto maior, e a partir daí se passava um período de um ano ou mais até surgir um próximo lançamento.

Um grande motivo para este cenário se dava justamente pela tecnologia analógica, que tornava os prazos de gravação, mixagem, masterização, prensagem, impressão e distribuição mais longos e trabalhosos, gerando uma série de limitações que tornava impossível a viabilidade de uma lógica de lançamentos mais volumosa e acelerada por parte dos artistas.

Realidade essa que é totalmente discrepante do universo musical de hoje, com suas centenas de milhares de músicas lançadas diariamente e todo um aparato de tecnologias e ferramentas que transformaram a indústria musical, a atuação dos profissionais e até o posicionamento dos artistas perante as suas obras e a sua trajetória artística.

Hoje, o lançamento de uma música significa não apenas o compartilhamento de um ponto de vista, a exposição de uma criação, mas também um trabalho necessário para se manter conectado a um público ansioso por conteúdo, bombardeado por informações de todos os lados, que deseja se envolver cada vez mais e de formas mais próximas com os artistas. 

Em meio a essa realidade, o músico luta por equilibrar a geração de conteúdo sem deixar de lado o seu pulso e identidade que deram início a essa trajetória artística em primeiro lugar. E ainda que a lógica dos streamings, das tecnologias e da ansiedade gerada pela velocidade do século XXI trabalhem constantemente a favor de números e contra o pleno fazer artístico, existem formas mais saudáveis de lidar com a entrega da sua arte e o desenvolvimento prazeroso da sua trajetória artística nessa lógica industrial, partindo do que falamos lá em cima, da busca pelas estratégias e formatos que mais dialogam com a sua arte e o seu público.

Como escolher a melhor estratégia para o seu próximo lançamento?

A ascensão das plataformas de streaming e o fortalecimento da cultura das playlists alimentadas pelos algoritmos levou músicos, selos e gravadoras a desenvolverem novas estratégias de lançamento, a fim de se manterem relevantes e rentáveis no mercado atual, mudando também a forma como os ouvintes consomem música.

Esse cenário tem levado muitos artistas a apostarem na constância que comentamos lá no começo do texto, optando pela predominância de lançamentos menores como singles, mirando também a cultura das playlists, como uma maneira de construir uma base maior de fãs e crescer o número de seguidores antes de colocar um álbum ou EP na rua.

Essa realidade pode fazer soar que o álbum não é mais uma obra valorizada pelo público, o que não é necessariamente verdade, mas é preciso compreender que o formato de consumo mudou e o formato de lançamento dos álbuns vem acompanhando essa mudança. Vemos cada vez mais projetos maiores serem lançados por partes, ocupando a programação de um artista durante um ano inteiro através de clipes, ativações, singles, que conversam com a proposta de um grande projeto final integrando todas essas áreas, mantendo o artista ativo junto ao seu público sem abandonar o ideal de uma construção conceitual mais ampla para além dos singles.

Para te ajudar a escolher o formato e a estratégia de lançamento mais adequada para o seu público e momento, existem alguns critérios importantes para avaliar nessa tomada de decisão, como: o seu repertório e a quantidade de músicas que já tem prontas; o peso que o seu próximo lançamento tem para a sua carreira; como está a sua relação com o público e como o seu público reage aos diferentes formatos de lançamento; se você possui uma estratégia de comunicação pensada para este lançamento; se há orçamento disponível, entre outras questões que podem surgir.

Considerando cada um dos formatos de lançamento: Single, EP e Álbum, pense em qual deles se ajusta melhor ao repertório que você já tem pronto e ao planejamento dos seus próximos passos?

É importante destacar o que já falamos antes sobre respeitar a qualidade e a identidade da sua arte acima de tudo. Se você não tem faixas prontas, que você considera boas o suficiente para lançar um álbum completo, não insista na ideia apenas para completar uma etapa da sua trajetória, pois ela representa um marco estético importante na carreira de um artista e você não quer entregar um álbum às pressas com uma qualidade duvidosa. Nesses casos, opte por um formato de EP ou Single, talvez até uma sequência de Singles.

Enquanto o álbum é  encarado publicamente como uma declaração criativa marcante, que destaca a estética e ideias do músico em um dado momento e que dita repertórios de shows por um bom período, os Singles e EPs atuam com mais força na área da experimentação criativa, da ampliação de público, da constância, com uma carga bem menor de expectativa, tanto do artista quanto do público.

Falando em público, o contexto das redes sociais e das plataformas de streaming aproximou de formas inimagináveis o público dos artistas e de seus processos criativos, fazendo dos ouvintes um critério importante de análise para definir os seus próximos passos artísticos.

Desde a quantidade de seguidores até a capacidade de engajamento do seu público com seus projetos, precisam ser avaliados. Caso você não tenha um público bem desenvolvido, é mais interessante e seguro optar pelos lançamentos menores, como Singles, para gerar expectativa por um volume de lançamentos, ampliar seu alcance e engajar novos ouvintes. Neste caso, os EPs podem funcionar também como um bom medidor desse interesse e engajamento do seu público, sendo um trabalho um pouco maior com um caráter mais experimental do que o Single.

O orçamento e o tempo disponível também são bons pontos de análise nessa escolha de formatos, pois os álbuns exigem trabalhos mais caros e complexos para o lançamento e a comunicação do que Singles e EPs.

Vamos então nos aprofundar um pouco mais nas características dos diferentes formatos de lançamento e entender como cada um deles pode se encaixar na sua trajetória artística em diferentes momentos.

Single

O Single é um formato de lançamento que inclui menos faixas do que um álbum ou EP, por isso estamos chamando este formato de “menor” ao longo do texto, não por ser um trabalho simplório, e sim por reunir uma quantidade de processos menor para que o artista possa viabilizar um lançamento. Geralmente os Singles são lançados junto a uma campanha forte de divulgação, acompanhado por videoclipes, que fortalecem esse lançamento individual e geram expectativas pelo o que está por vir nos planejamentos do músico.

Na maioria das vezes o Single traz apenas uma música que pode ser lançada como uma obra individual, ou que posteriormente será incluída em um álbum ou EP, mas nesses tempos das plataformas de streaming, estamos nos acostumando a encontrar Singles que trazem até três faixas em alguns casos.

Para artistas que já possuem uma trajetória no meio musical, o Single funciona como uma importante ferramenta de divulgação ativa de próximos trabalhos dos artistas e também uma forma de se manter conectado ao seu público com a entrega de novos trabalhos menores enquanto um grande projeto não está finalizado.

Para artistas que estão começando a sua trajetória, o Single é talvez a melhor estratégia para se apresentar para o público, explorar suas características, seus diferenciais, experimentar a sua identidade artística com trabalhos mais acessíveis para serem executados e que funcionam muito bem na ampliação e engajamento do público.

Aqui entra muito a discussão da constância que abordamos no começo do texto, o Single ajuda os artistas a trazerem volume, diversidade e visibilidade para a sua trajetória, tanto de trabalhos apresentados quanto de uma base forte de ouvintes que têm o potencial de engajar lançamentos maiores posteriormente, fortalecendo a sua carreira como um todo.

Além disso, em tempos de redes sociais o lançamento de Singles pode ser uma boa estratégia para trazer um movimento interessante de novos seguidores, que podem chegar até o seu trabalho através dessa constância de novos lançamentos, sendo também um fator de interesse para os algoritmos das plataformas de streaming, que valorizam muito o lançamento de Singles para atualizarem as playlists semanais e manter o fluxo de constantes novidades aos usuários.

EP

O EP (Extended Play), é um formato de lançamento que inclui mais faixas que um Single e menos faixas do que um Álbum. Considerados pelas plataformas de streaming como trabalhos que reúnem algo em torno de cinco faixas, os EPs são formatos que permitem ao artista produzir um trabalho fechado sem a carga de investimento e complexidade de um álbum.

Outra forte característica do EP é a liberdade criativa que este formato permite, pois ele não exige a construção de um grande conceito ou uma história muito amarrada entre todos os elementos que compõem o trabalho, trazendo uma característica experimental para os trabalhos fechados que é mais ampla que os processos de um Single, porém mais descompromissada do que a realidade de um álbum. Mas diferente das Mixtapes, por exemplo, o EP não é simplesmente um agregado de faixas. Ainda que seja trabalhado em um contexto menor, o EP é um formato que traz uma identidade coesa entre os seus elementos.

O lançamento de um EP flerta entre o fortalecimento da sua constância enquanto artista como também da experimentação de novos conceitos e abordagens para a sua arte. Esse formato é eficiente para solidificar os seus ouvintes assíduos, assim como para apresentar o seu trabalho para novos públicos que podem se interessar por um projeto mais completo do que um Single, mas não tão comprometido quanto um álbum.

Para artistas que já estão com uma caminhada artística em desenvolvimento, o EP é uma boa estratégia também para se manter ativo entre os ouvintes e relevante para as plataformas de streaming, fortalecendo sua regularidade artística sem depender do envolvimento e investimento exigido por um álbum.

Álbum

Pelas definições das plataformas de streaming, o Álbum é o formato musical que reúne a partir de 7 faixas, tendo como sua maior característica a construção de uma história, de um conceito, uma obra complexa que integra os elementos visuais e sonoros em torno de uma mensagem única e pessoal do ponto de vista do artista, sendo o formato que exige maior investimento no seu desenvolvimento e lançamento.

Durante muitos anos, desde 1960 até o início do século XXI, os álbuns assumiram um forte protagonismo nos lançamentos musicais, sendo a lógica padrão para a trajetória de qualquer artista, por fatores que já abordamos anteriormente por aqui. Com o advento das tecnologias, esse formato foi perdendo espaço para os lançamentos mais ágeis e menores, mas o seu valor segue inquestionável, por aqueles que não dispensam a experiência única de se consumir um trabalho do início ao fim, sentindo a construção de toda a jornada elaborada pelo artista.

A experiência de um Álbum, que não pode ser emulada por Singles ou EPs, vem para trazer aos seus ouvintes uma compreensão maior da sua visão artística e do seu potencial criativo. É a obra máxima de qualquer artista na busca por estabelecer sua credibilidade e o envolvimento do seu público com os seus trabalhos e a sua carreira como um todo. É o álbum o responsável por fechar ciclos e abrir portas para o músico expressar toda a sua identidade através deste formato.

Sendo o álbum um importante marco na trajetória de qualquer artista, é importante planejar o seu desenvolvimento e lançamento com todo o cuidado que ele exige. Lançar um álbum no início da sua carreira pode não ser a melhor escolha, pois o público ainda não está familiarizado ou engajado realmente com o seu trabalho, e um lançamento longo e complexo pode desinteressar públicos novos e diminuir o impacto de uma obra essencial para a sua caminhada.

Artista acima de tudo

Nossa intenção com este texto não foi criar regras ou apresentar métodos definitivos de sucesso. Entendam, isso não existe na arte. O que buscamos aqui foi pontuar algumas estratégias e lógicas que podem auxiliar no planejamento dos seus próximos lançamentos e te ajudar a compreender a melhor forma de encaixar essas diferentes ferramentas no seu processo criativo, de acordo com a sua realidade, o seu público e as suas intenções para a sua carreira.

A mensagem mais importante que queremos passar aqui é: descubra o que funciona melhor para você e para o seu público. Quem deve avaliar e decidir se o seu próximo lançamento deve ser um Single, um EP ou um Álbum, é você mesmo. Não são os números das plataformas. Não é a vontade dos algoritmos. É a sua ambição artística que deve ser a sua bússola.

Uma “boa estratégia” não vai garantir impactos gigantes para a sua caminhada de forma automática, simplesmente cumprindo etapas impostas pela indústria e as novas lógicas de consumo musical. Tudo isso se torna só um papo técnico sem a sua motivação, a sua compreensão do seu próprio trabalho e caminho que está trilhando enquanto artista.

Por isso, reforçamos: entenda as lógicas dos streamings, compreenda as características e possibilidades de cada formato de lançamento musical, mas, acima de tudo, esteja satisfeito com a sua criação. Não lance trabalhos simplesmente por lançar. Você é um artista, não um bem de consumo. Não deixe, jamais, de separar a maior parte do tempo para criar e lapidar sua criação e entregar a melhor versão de si mesmo.

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