Por, Eva Paredes
Vinicius Monte se traduz como uma “amálgama de operações misteriosas que se ocultam e revelam” também diretor artístico da Caixa Preta, sendo uma resistência da exposição constante de artistas brasileiros; multi artista visual, compositor; Produtor cultural, agente político, cientista tarólogo e agora parte do selo Strads. Com 34 anos, atualmente reside em São Paulo, carioca. Nascido no morro do fubá, Vinicius foi criado na taquara, onde teve seu primeiro despertar político-psicológico.
Vinicius diz que pensava não ter aptidão com desenho e pintura por ter pouca familiaridade com a arte contemporânea, vindo de periferia tendo poucos recursos e sendo uma pessoa dispersa, o artista começa a realizar colagens e ocupar um espaço de terapia em sua rotina. “Tudo começa a partir da colagem e do pensamento crítico que vivi com o coletivo”. Sua vocação floresceu em meio ao coletivo “Vô Pixá Pelada” na Zona Oeste do Rio de Janeiro.
Futuramente, o projeto “Hospital da Loucura” convidou diversos coletivos artísticos para ocuparem um andar do instituto municipal Nise de Silveira, o manicômio mais antigo do Brasil, para terem um espaço e em contrapartida os artistas realizarem atividades com os pacientes. Vinicius e o coletivo ocuparam uma sala do hospital, despertando sensibilidades em um ambiente tão necessitado.
Vinicius se entende como “Artista Cientista formado pela ‘UPAC – UNIVERSIDADE POPULAR DE ARTE E CIÊNCIA’ ”. O coletivo abriu portas para ele, que em seguida ganhou bolsa em Artes Visuais, experimentando outras áreas, mas permanecendo em suas pesquisas com colagem.
O meio acadêmico de artes visuais não foi receptivo, sendo bastante excludente com corpos marginalizades, Vini precisou se entender quanto um artista catalisador, movimentando-se de maneira coletiva e criando seu próprio lugar. Em meio a tantas potências invisibilizadas, Vini se destacou, destacando também quem ali estava.
Destacar-se foi necessário em artes visuais, o destaque de artistas invisibilizados também, mas unificar tudo que se destaca é algo bem presente na fala de Vini. O artista entende que “tudo é colagem”, tendo explorado primeiramente a colagem no papel, levando para outros suportes como objetos, começando a envolver tudo; logo vai para vídeos, pensamentos filosóficos e até mesmo a captação astral de um baralho de tarot desenvolvido por ele próprio. Em sua perspectiva, ele entende toda a realidade como uma possível sobreposição de camadas.
Vinicius diz em nossa entrevista: “Se tudo já foi feito, tudo já foi produzido, a gente precisa reproduzir, reescrever, pegar uma dali outra daqui, reescrever”, basicamente estamos “sampleando” tudo, criando pequenos samples com os fragmentos ressignificados de outras coisas. Recriar, como reciclar, como reconfigurar.
Em agosto de 2018 Vinicius deu início a Caixa Preta, onde através de uma exclusão constante de artistas dissidentes, o olhar do artista organizou sua exposição dos sonhos, sustentando nos próprios braços a curadoria, a função de organizador, barman; funcionário da recepção, da limpeza, da venda de ingressos… Basicamente foi todo o servidor de uma séries de exposições de arte únicas e eficazes socialmente.
Observo uma conexão entre seu olhar para a colagem, e a construção da Caixa Preta, quanto uma observação dupla de coisas que se complementam e funcionam melhores juntas, onde objetos que estão desmembrados se auxiliam através de seus membros.
Vinicius incorpora o conceito da psicomagia para gerar suas imagens, faz um resgate em si e no mundo. Foi em Belém do Pará que Vinicius adentrou 3 milhões de pessoas devotas de Nazaré, para testemunhar o sírio, sendo este uma comemoração católica do Pará mundialmente conhecida, Vinicius reconheceu o Arcano número dois (no tarot “A Grande Sacerdotisa”). Fotografou e projetou sua leitura da carta.
Para construir a “carta da morte”, o artista realizou a fotografia em uma praia do interior do Rio de Janeiro, que possui um enorme índice de afogamentos. Se cria todo um cuidado ao adentrar nesses espaços, onde Vinícius pede permissão aos pescadores e ocorre uma mobilização para criar a imagem.
Voltando para 2019, Monte testemunha uma nova amálgama de sobreposições, onde estando acima do palco, com coragem cantou para a plateia do Parque Lage no encerramento do “Formação Deformação”. Ele confessa ainda ter medo de cantar e se mostrar, mas que está encarando e passando por isso.
Em 2022, em sua residência em São Paulo, Vinicius inicia uma série de obras intituladas como “Sem Título”, sendo estas, colagens analógicas feitas a partir de diversos materiais como papel, tecido, tintas variadas, linha, barbante, unhas postiças, espuma e couro sintético; Junto de Juliana Freire, Vinicius faz sua residência-pesquisa-processo em uma nova temporada de exposição chamada “Eu sou o encontro, Eu sou a passagem”, em Pacaembu (SP).
Com duas futuras propostas musicais, Vinicius Monte pretende mostrar ao público uma música animada que trata de experiências quanto uma bixa tendo seus afetos mediados através de relações feitas como propaganda; enquanto a outra trata o fim da Caixa Preta, términos e perdas. Através de seu olhar, Vinicius trará suas vivências, expostas as beiradas de um sistema limitante e uma manifestação da sua existência através da performance musical.
Acompanhe o trabalho de Vinicius Monte nas redes sociais: @monte.vinicius