Por, Bruna Helena
Eva é filha, é mãe, é cria. Filha da Márcia, Adre das Adres Aurora e Mavi, sua família.
Eva é uma construção a partir dos destroços, é um infinito de novas possibilidades, nas palavras da própria ‘’Ela é quem vejo no espelho’’.
Eva é criadora do single ‘’Anarkrya’’, que não se trata simplesmente de uma canção, mas sim da demonstração de uma cultura travesti e periférica, a Anarkrya é de gênero, é de assumir o controle sobre sua própria narrativa, e dar-se nome perante uma guerra silenciosa, e é uma das raízes de Eva, uma das pontas de um pentagrama verde, chamado ‘’Observatório’’, é do observatório que a Anarkrya nasceu, é neste local em que ela cria suas entidades, que as traz até o público. Anarkrya é o primeiro capítulo do Observatório, é um resgate de tudo que se perdeu como criança na favela, mostrando sua inteligência e sua capacidade.
A intenção de Eva é possibilitar as realidades que ela quer viver, resgatar e superar para poder seguir.
Eva almeja trazer à tona para todes a periferia na visão de corpas trans vivas, e em movimento.
Como artista e cantora, Eva é uma potência, tanto para falar de seu íntimo, sua vida, sua visão, quanto para somar na cena crescente e necessária para o hip hop que vem criando consciência e aborda a realidade, é impossível falar da realidade e da vida no asfalto e no morro sem falar das travestis, sem falar da crueldade e da irmandade que coexiste pelas ruas.
Seu som é pesado como as verdades que não querem ser ouvidas, como MC, Eva vem de forma transgressora e se alinha e desalinha com as batidas, subvertendo e anarquizando lírica e musicalmente. Algo novo, necessário e também simbólico, ela trás o que propõe e isso é inegável.
Foto da capa por @aniramarina___