Por Gustavo Silva
Seja através de homenagens, recriações, adaptações com estilos musicais diferentes, as grandes músicas e obras criadas ganham vida eterna com transformações e evoluções constantes.
São várias as formas de perpetuar grandes músicas e aproximá-las da nossa identidade artística. Um grande formato conhecido são os covers, que apresentam as músicas tocadas da forma mais fiel possível à gravação original.
Em outro contexto, as versões e releituras, são cada vez mais populares, e conquistam um espaço único nas criações artísticas, misturando elementos marcantes de grandes obras, com traços característicos e independentes de novos e diferentes artistas e gêneros musicais.
Lansa sua Versão
E claro que na Straditerra, a arte das versões não poderia ficar de fora do nosso repertório de criações. Através da série “Lansa sua Versão”, reunimos artistas de todo o país, em um espaço voltado a apresentar a transformação de suas referências musicais, a partir da interpretação de versões de obras de outros compositores brasileiros.
Em diversos episódios disponíveis no Instagram e no nosso canal no YouTube, trazemos artistas apresentando toda a sua identidade, com livres criações e recriações das suas referências musicais. Como é o caso da Anna Beatriz, que lançou a sua versão acústica da clássica “Na Segunda Vinda”, do álbum “Babylon By Gus – Vol.1” do Mr. Niterói, Black Alien.
Tivemos também a versão de Fernanda Rossi e Raoni Loran da conhecida “Ai, Ai, Ai” da Vanessa da Mata, lançada em 2004 no álbum “Essa boneca tem manual”, que você pode conferir aqui. Entre muitas outras versões, como Hilel Faria que nos trouxe a sua transformação da faixa “Hermes Trimegisto e sua Celeste Tábua de Esmeraldas”, de Jorge Ben Jor, lançada em 1974.
A versão como homenagem
Nestes casos, as versões dos artistas que trazemos surgem também com um tom de homenagem, a obras e artistas que influenciaram suas criações e expressões musicais. Assim aconteceu também com versões que hoje ocupam um espaço no imaginário popular até maior do que as obras originais.
Como é o caso de Gilberto Gil, que em 1979 lançou o single “Não Chore Mais”, no álbum “Realce” e alcançou o topo das paradas brasileiras, se tornando um dos responsáveis por popularizar no Brasil o reggae de Bob Marley. Criando uma versão traduzida da clássica “No Woman, No Cry” do artista jamaicano, foi pela voz de Gil que o gênero musical caiu na boca e no ouvido do público brasileiro.
Em entrevistas, Gil afirma que Marley foi o último artista a quem ele dedicou uma atenção profunda, específica e permanente. Tanto foi, que Gil criou uma relação próxima com a arte de Marley, e teve a imagem do reggae eternamente associada à sua trajetória musical, levando ao álbum “Kaya N’Gan Daya”, de 2002, inteiramente dedicado às canções compostas por Bob Marley, elaborando versões em português para diversas criações do jamaicano.
Assim também aconteceu com Marcelo D2 e Bezerra da Silva, artistas que partilhavam uma amizade pessoal que não deixou de desbancar também para as criações artísticas de ambos, que frequentemente estavam presentes nos trabalhos um do outro. D2 já era conhecido por misturar o Samba com o seu Rap, em discos como “Eu tiro é onda” e “À procura da batida perfeita”, mas foi no seu álbum totalmente dedicado a trazer versões com a sua identidade dos sons de Bezerra, que Marcelo homenageou de forma plena, tanto o Rei da Malandragem, quanto o gênero mais brasileiro que conhecemos.
Recriando e expandindo
Outra forma de versão que se popularizou no Brasil, e trouxe grandes obras musicais são as releituras, que partem de uma composição já existente, mas tomam o seu próprio caminho, incluindo alterações principalmente nas letras das obras originais.
Neste modelo, a mídia ODB lançou em 2016 a série Tudo Clone, reunindo artistas do Rap nacional em um exercício de recriar clássicos da música brasileira. Assim, tivemos o prazer de ver Rico Dalasam criar os seus próprios versos para o clássico “Quinto Vigia”, de Ndee Naldinho.
Nesta releitura de versões, é possível também atualizar pautas e contextos que fazem ligações entre diferentes gerações da música e da sociedade. Nessa mesma onda, em outro exemplo, Don L manteve o instrumental e o refrão de “Beira de Piscina” do Emicida, e criou seus próprios versos, em uma versão da música tão memorável e marcante quanto a obra original.
A MPB também é um berço fértil de influências para novas versões musicais, principalmente no Rap. Já são incontáveis as versões de “Construção” de Chico Buarque que ocupam seu espaço no Rap nacional, adaptando a fórmula de escrita desenvolvida por Chico neste clássico, mantendo o formato da música em novas letras e instrumentais, dando uma vitalidade interessante para um som revisitado frequentemente.
Modernizar o passado é uma evolução musical
Importante lembrar que versões e releituras são homenagens, ou obras autorizadas pelos donos dos direitos autorais, então fogem completamente da categoria dos plágios. Por exemplo, em casos como “Astronauta de Mármore”, da banda de rock gaúcha Nenhum de Nós, que é uma versão de “Starman”, um dos maiores hits de David Bowie, houve uma análise pessoal da letra em português pelo britânico, que aprovou e reconheceu a grandiosidade da nova versão.
Cada vez mais, tanto artistas quanto o público, tomam as adaptações e criações como uma forma desejável e muito válida de evolução musical, ou até de primeiro contato de um novo grupo a uma sonoridade antes não conhecida.
Reutilizar pontos marcantes de obras inesquecíveis e trazer a identidade de diferentes artistas para produzir uma nova arte, é uma forma de eternizar importantes criações, e valorizar a capacidade criativa de uma geração com tecnologias e ferramentas à disposição, para evoluir uma arte estruturada por pilares eternos.
Ao longo desse texto incluímos outros exemplos de versões de grandes clássicos, vinculadas de alguma maneira à Straditerra, que não poderiam ficar de fora dessa listagem. Como é o caso da faixa “Feira de Mangaio”, do álbum AQUI JAZZ, do Dabliueme, que apresenta uma versão da clássica música de Sivuca com composição da Glória Gadelha. Outro exemplo é o ao vivo “Duo Casullo no Vale”, no qual a dupla formada por Kim Franco e Be Padú, trazem uma série de versões de grandes obras nesta apresentação. E também não podemos esquecer do “Chorinho pra Ele” do grupo francês Aliaga Trio, uma versão única do fonograma de Hermeto Pascoal. Interpretações híbridas e potentes que não podem faltar na sua lista de reprodução.