Abram as cortinas para a nova versão do Msor, com o álbum “Novx Otelo”

Por Gustavo Silva

Dispensando apresentações para todos os amantes do underground do Rap nacional, o MC e produtor Msor vai lançou hoje, 29 de outubro o seu segundo álbum de estúdio, intitulado “Novx Otelo”.

Em seu novo trabalho, o fundador da gravadora Rancho Mont Gomer, busca referência e inspiração na imagem do artista Sebastião Bernardes de Souza Prata, mais conhecido como “Grande Otelo”.

Homenageando esta figura marcada como um dos mais destacados atores brasileiros do século XX, Msor apresenta em “Novx Otelo” a sua busca pessoal por uma nova versão de si mesmo, enquanto artista e pessoa.

Reafirmando o valor da sua trajetória no Rap, Msor assina diversas produções e letras do álbum, ao lado de um time de grandes produtores como DJ Tadela, DJ Batata Killa, VIBOX, Thiago Ticana e DOMRAFA, além das canetas afiadas nos versos de MCs como Victor Xamã, Chinv, obelga, Malcom VL, Sergio Estranho e Conde Cory.

E para preparar todos para este lançamento, batemos um papo completo sobre o álbum com o Msor, que se aprofundou sobre diversos pontos de “Novx Otelo” e suas referências, além de fazer um breve faixa a faixa e contar mais sobre as produções e participações do álbum. Confere aí!

Buscando uma nova versão

Salve Msor, satisfação enorme de poder trocar essa ideia contigo sobre o seu mais novo trabalho “Novx Otelo”. Neste álbum você traz uma temática que referencia o artista Sebastião Bernardes de Souza Prata, apelidado de Otelo pelo seu enorme talento, e eternizado como Grande Otelo pela crítica e pelo público. Pra começar esse nosso papo eu queria que você falasse um pouco sobre essa sua representação para o novo álbum, como um Novo Otelo, um artista com uma trajetória de grande valor no underground, e que se estabelece a cada dia mais como um importante destaque na música nacional como um todo.

Salve Gustavo, e todo o pessoal da Straditerra e todo mundo que acompanha o site e todo esse trabalho. Satisfação é minha em poder estar dando essa primeira entrevista sobre o meu trabalho “Novx Otelo”.

Esse álbum tem o nome de “Novx Otelo”, mas na verdade, se a gente catar por vários ângulos, eu retratei uma figura antiga, então seria, digamos assim, uma reciclagem de uma imagem muito importante. Conforme o tempo vai passando, as imagens vão se apagando um pouco, só que nada se cria, tudo se copia, aquela frase clichê. Eu gosto muito da história do Sebastião, mas eu quis retratar também uma nova versão minha. Acho que todo mundo sempre busca sua nova versão, tanto o artista, quanto o advogado, o juiz, e qualquer um.

Essa sede por renovação, pela nossa melhor versão, eu senti essa necessidade depois do meu primeiro trabalho “Arcano Pessoal”. Esse trabalho eu sinto que foi uma coisa mais conturbada, porque eu estive em um processo de terminar um grupo, começar a carreira solo, criar o Rancho e nisso tudo encontrar a melhor versão minha possível. Tudo o que eu já fiz foi uma grande bagagem para essa nova versão. Eu sou um cara que sempre arrisca muito, tipo: “Vamo fazer? Vamo fazer”, dificilmente eu penso duas ou três vezes, e nessa nova versão tem um pouco disso mas um pouco mais cauteloso, eu penso uma vez antes de fazer, não trato mais as coisas sendo impulsivo como antes.

Eu antes não me achava um cara detalhista, mas conforme foi passando o tempo eu percebi que eu sou muito detalhista, e isso fez eu aprender a trabalhar melhor esse lado. É difícil você ser detalhista e impulsivo, essa combinação acaba atrapalhando muito a você acertar os detalhes das coisas. Então eu aprendi a respirar e ir pra frente, acho que isso é o mais importante.

Faixa a faixa

Ao longo das faixas do álbum, você cria uma narrativa paralela de um jovem preto enquanto um grande artista que se sente forte e invicto tal qual Grande Otelo, e reforça o valor e a grandeza da sua trajetória até aqui, enquanto lida também com uma realidade racista e assassina, permeada por medo, por uma falta de autoestima, por uma vivência cruel e violenta. Fala mais pra gente sobre essa narrativa e a atmosfera que você buscou criar em Novx Otelo, trabalhando com essas dualidades.

Essa imagem é muito como eu sempre me senti desde pequeno, e eu acho que como todo homem preto sempre se sentiu e se sente até hoje. A gente tem aquela narrativa em qualquer história quando você ouve falar de homens pretos de sucesso, do homem alto, forte, viril, bom de cama, sorriso, pá, e todo homem preto não é assim. Essa é a imagem que as pessoas têm mas pelo contrário, isso causa grandes problemas pra ele, de insegurança, começa a não se sentir satisfeito com as coisas, faz ele ser mais duro para poder conseguir compreender, tanto um relacionamento entre um homem e uma mulher, quanto um relacionamento com amigos, tem aquela que o homem preto não pode chorar, e assim vai indo e a gente vê o resultado na quantidade de homens pretos que morrem por dia, celas cheias, lugares que a gente não tem espaço e sempre é muito agredido.

Dentro da primeira faixa eu trago esse “Adeux” dessa imagem padrão que as pessoas têm de todo homem preto que elas conhecem, e a faixa traz essa atmosfera diferenciada, que é bem fora do Rap. A Joy cantou, eu produzi essa faixa e tive a colaboração também de outros produtores. Aí eu consigo ir para a segunda faixa que chama “Mapeando Território”, a gente sempre precisa mapear, destrinchar, onde a gente tá. Todo homem preto aprende que em todo lugar que vai ele tem que observar onde está, exatamente para evitar ser atacado. Então é muito essa visão, de mapear onde a gente tá, pra saber que se acontecer alguma coisa, a gente sempre tem que ter uma resposta.

Aí eu vou pra terceira faixa que se chama “Profundidade”. Depois que a gente mapeia, a gente sabe a profundidade, começa a enxergar a bondade e a maldade das coisas, e clareia até na mente quando a gente sabe o momento certo para poder atribuir a melhor versão nossa para as pessoas. O quarto som já é o encontro dessa nova versão. “Cortinas” é o momento que a gente não pode, querendo ou não, perder o timing. Eu retratei no começo do álbum esse lado mais de caos, de saber enxergar as coisas, esse momento mais conturbado, e acho que sempre depois desse momento vem a parte que a gente precisa acordar. Eu retrato muito isso nesse som, o momento exato pra gente falar tipo: “Putz, agora é a minha hora”, é você e você, não precisa de mais nada.

O quinto som chama “FomediQue?”, então a gente já mapeou tudo que a gente passou, extravasou, e depois vem aquela fome, ânsia de querer ganhar, de querer tomar o que é nosso. Não tomar bens materiais, eu digo sobre tomar essa nova versão como a nossa própria, de cada pessoa. Eu chamei o Malcom VL, de Guarulhos (SP), um jovem preto, modelo, músico, pra representar comigo nesse som, com produção minha também. Depois de todas essas etapas a gente chega no sexto som já é como o “NovxOtelo”, então seria essa nova versão nossa mesmo, principalmente minha, e de quem mais se identificar, todo homem preto que se identificar.

A sétima faixa chama “Privilégio do Silêncio”, eu tentei trazer uma questão muito importante porque, principalmente aqui no Brasil, boa parte da população é preta e uma parcela dessa população não sabe que é preta por não ser retinto, aquele preto que é geralmente retratado nas mídias. Mas dentro dos tons de pessoas pretas existe uma grande variação, e você consegue enxergar que toda pessoa preta é tratada igual, mas você muitas vezes não tem na sua família a vivência de uma família preta, então você não consegue se encaixar. Nessa faixa eu tentei trazer um questionamento para as pessoas pretas retintas e não retintas. Esse som eu escrevi inteiro e produzi com alguns amigos, e chamei o Conde Cory para cantar comigo.

A última faixa chama “Alegria da Noite” e é aquele momento noturno, de aventura e tudo mais, exatamente para terminar o álbum em um momento alegre, ao invés de uma atmosfera mais pra baixo ou introspectiva.

E para criar um trabalho à altura de Grande Otelo você contou com ótimas produções que elevam muito a qualidade do álbum, e que por si só merecem um destaque especial. Compartilha com a gente quem você trouxe pra fortalecer a produção musical de Novx Otelo, e como foi esse processo criativo do álbum?

As nove faixas são produção minha, boa parte delas são produções próprias, mas tem também sons com outros produtores envolvidos. Uma peça fundamental nesse álbum foi o produtor DJ Tadela, tiveram produções que eu comecei junto com ele. Uma das produções do álbum é do DK; nas outras faixas eu chamei o VIBOX (outro produtor sensacional daqui de SP); eu também consegui o contato com o Dow Raiz que me indicou o trompetista da banda dele, Menandro de Curitiba, músico foda; convidei o Thiago Ticana, daqui da Zona Norte, puta guitarrista e produtor; chamei também o DJ Batata Killa para somar em algumas faixas; e o DOMRAFA, outro produtor aqui do Rancho Mont Gomer que tem um potencial incrível.

Nos feats eu chamei o Malcom VL; obelga, que é de Uberlândia (um fato até interessante, porque o Sebastião “Grande Otelo” é natural de Uberlândia também); chamei o Chinv, da SoundFoodGang; a Joy Amaru, cantora sensacional; Sergio Estranho que sempre tá com a gente; e o Victor Xamã de Manaus, um cara sensacional, acho ele um puta músico incrível.

Com essas grandes produções, Novx Otelo viaja por diferentes gêneros, Boombap, Trap, Jazz, House, carregando as faixas por várias sonoridades, desde músicas com uma pegada mais de festas e rolês, até faixas mais densas, introspectivas e críticas, destacando a sua própria variedade artística. Fala mais pra gente sobre essa diversidade sonora que o álbum apresentou tão bem.

Essa diversidade de gêneros é uma coisa que eu procuro muito no que eu consumo, nos artistas que eu consumo, tanto daqui como lá de fora. O Boombap é uma coisa que eu sempre escutei desde pequeno, o Trap eu acabei escutando já mais na adolescência, Jazz eu também sempre escutei, e o House é uma coisa que eu também gosto desde pequeno. No primeiro grupo que eu tive um amigo me ensinou a rimar em cima de beat de House, porque eu escutava muito Samba, Pagode, e eu não conseguia rimar em cima do beat mais lento do Boombap. Essa relação com a música House foi algo que eu sempre quis trazer, e pretendo fazer ainda mais em próximos trabalhos.

E não é só na produção musical e nas sonoridades que o álbum se destaca, a sua escrita e entrega em Novx Otelo trazem uma grande variedade de flows com levadas mais introspectivas, combinando com versos mais rasgados e agressivos. Compartilha com a gente como foi o seu processo de escrita e de interpretação vocal para este álbum.

Eu acho que o meu processo de escrita é muito sobre a variedade de estilos de sons que eu procuro nos artistas que consumo, e eu também comecei a enxergar a música de outra forma. Quando eu era mais novo, eu escutava muito novela de rádio, e ficava observando como a novela era narrada, e conseguia enxergar muito bem o que era falado, a atenção colocada em cada interpretação.

Acho que tem muito disso, o Parteum fala muito também que um MC que grava ali na hora acaba sendo também um ator. Eu comecei a enxergar as minhas músicas dessa forma, sobre interpretação. Uma palavra simples, dependendo da interpretação, toma outro tom, outra força. Essa interpretação eu tentei trazer muito para esse trabalho, por isso essa variedade de flows e métricas

Além da sua caneta, o álbum conta com grandes participações que entregam ótimos versos, trazendo nomes que você já colaborou antes em trabalhos de destaque como Sergio Estranho, VXamã, Chinv, e muito mais. Conta mais pra gente sobre todas essas participações que você trouxe para o álbum e a importância destes nomes estarem presentes no seu novo trabalho.

Cada uma dessas participações foi muito bem pensada. O Estranho é um cara que eu amo, sempre escrevo com ele, admiro ele. Pra mim atualmente, juntamente com o Dow Raiz, são os caras que eu mais admiro a caneta. O Estranho faz muito isso, ele fala do mesmo jeito, mas nunca soa do mesmo jeito, algo que eu acho muito difícil e até busco como inspiração.

O Victor Xamã eu também acho incrível, acabei conhecendo ele pelo Estranho e o Eloy, é um cara excepcional, um artista completo. E aí vem o Chinv também, da SoundFoodGang; o obelga que é outro cara incrível que eu conheci pelo Batata (meu DJ desde o meu antigo grupo); a Joy que também é sensacional, uma mina preta incrível, com uma voz linda, escreve muito bem, tem muito trabalho que eu quero lançar com ela ainda.

O Cory é outro moleque muito talentoso, canta demais, me lembra muito o jeito do Michael Jackson cantando quando era mais novo, sinto que ele tenta trazer muito disso no canto dele, e nas coisas que ele escreve, moleque brilhante. E o Malcom VL é um cara incrível, moleque muito talentoso, cada vez ganhando mais palco e espaço, homem preto, retinto, representando muito nós por todo o Brasil.

escute agora o álbum completo
Msor – Novx Otelo

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Valeu demais Msor por essa troca de ideias!

E essas foram algumas curiosidades e detalhes do “Novx Otelo”, segundo álbum do Msor. Para saber mais sobre essa obra só dando o play no álbum que foi lançado em todas as plataformas no dia 29 de outubro.

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