Sinógeno: o ritmo que a história nos conta

Atualizado: Mar 24

Por Bruna Helena

Quais sons a história faz em seus ouvidos quando lhe é contada? Para os moradores da cidade de São João Del-Rei, em Minas Gerais, essa pergunta tem uma resposta, qualquer um deles vai lhe responder que a história tem som de sino de igreja tocando. Agora, não é simplesmente do som de um sino de igreja que estamos falando, falamos de sinos com marcações e ritmos que nos levam ao maracatu, também ao baião, quase que como chegar aos seus, um sincretismo construído pela igreja católica através da mãos negras e calejadas do povo africano que hoje, miscigenado, ocupa nosso país.

Foi ouvindo, pensando e sentindo essa história a vida toda que Rabay construiu, como outrora construíram os sinos, sua obra intitulada ‘’Sinógeno’’, um remix desse som que não é somente som, que também é nossa história. O artista se propôs a samplear a peculiaridade dos sinos da cidade de São João Del-Rei com a ajuda de Maria Anália, musicista e luthier, que construiu o coração deste projeto, chamado ‘’sineiro’’, um instrumento que funciona aqui como um sampler orgânico, somando-se aos samples digitais e beats criados por Rabay, essa junção espetacular é fiel aos sons históricos e também a magia de captar e transformar os sons que o Hip Hop nos proporciona. Trata-se de uma viagem ao tempo, e ao mesmo tempo ao presente, andando pelas ruas de São João Del-Rei, que se você não conhece ou nunca ouviu, agora se dispensa a viagem, já que é possível mergulhar em Sinógeno.

Para facilitar seu passeio, este ep não trás somente a sinfonia de sinos, traz também as imagens que você veria nessa voltinha pelas ruas de pedras da cidade aqui homenageada, onde se é possível conhecer os sineiros, olhar a paisagem e visitar as igrejas. As lentes por trás de Sinógeno são de Thiago Morandi, e as cores que vemos ressaltadas nelas são para nos lembrar que todas as histórias têm dois, ou mais, lados, para cada tijolo que sobe uma torre, uma gota de sangue e suor escorre nas peles escuras de nossos antepassados. Em tons de vermelho podemos ver, ouvir e lembrar desse processo histórico.

Sem dizer uma palavra, Rabay e Maria nos contam muita história, não só da música brasileira, nem só da construçaõ de Minas e sua Estrada Real, mas também dos povos que as carregaram nas costas e ainda hoje carregam através da escravidão moderna que chamamos de trabalho. Justa a história nunca será, mas o nosso alívio é que ela ainda pode ser contada, ou melhor, tocada, como se toca um sino.

Ouça e assista o EP visual de Rabay e Maria Anália, Sinógeno.

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