Trinca Ferro: EP de lançamento do quarteto exalta compromisso com a cultura regional

Atualizado: 20 de Jul de 2020

por Gustavo Silva

O Trinca Ferro, quarteto composto pelos mc’s Fattah e DGO, o beatboxer Diego MP3 e o multi-instrumentista Iago Dias lançou na última semana o primeiro EP do projeto.

O EP, que leva como título o próprio nome do trio, possui três faixas + o instrumental da primeira “A Terra é Planta“, que foram captadas em apenas três dias. Em uma conversa com a Straditerra, o mc DGO nos contou que inicialmente o trio tinha a intenção de gravar, mas nenhum planejamento de quais e quantos sons sairiam. Eles encontraram então no EP o formato mais viável para propagar essas tracks, com o intuito de anunciar e divulgar a junção dos quatro ‘trinca ferro’ nessa formação.

Ao longo das três faixas, tanto nas letras, na composição do beat e na escolha dos samples, identificamos uma forte exaltação e respeito à natureza [desde o próprio nome do trabalho que faz menção à uma ave brasileira], além de toda uma discussão sobre a busca da liberdade pelo ser humano.

Neste primeiro projeto, o quarteto condensa uma série de elementos e técnicas que expressam logo de cara a originalidade do trabalho desse grupo. Logo na primeira faixa, já chegam derrubando a teoria da Terra Plana, afirmando: A Terra é Planta.

Mano, são temas necessários para o momento, acredito eu, e falando pelos integrantes desta obra também, estamos passando por um governo de extrema direita, e por um outro grande problema que é a ascensão dessas ideias autoritárias, conspiracionistas, preconceituosas. Estão cada vez mais fugindo de um propósito igualitário”, disse DGO.

Na segunda faixa do EP, “I have a dream” (que faz referência ao histórico discurso sobre união e coexistência harmoniosa entre negros e brancos proferido pelo pastor, ativista e líder do movimento dos direitos civis nos EUA, Martin Luther King Jr.) Trinca Ferro quebra o padrão, e traz o beatboxer do grupo Diego MP3 assumindo a voz e lançando a letra que faz uma reverência à sua trajetória, à arte e ao trabalho desempenhado pelo artista ao longo da sua carreira.

Essa track era a única música pronta em relação ao beatbox e letra. No período em que o MP3 estava na Finlândia a gente trocava muita ideia, e lancei essa escrita pra responsa dele. Quando ele veio para Paraisópolis/MG, com o som já lançado nos formatos dele no loopstation, a gente conseguiu produzir essa track. O Iago Dias gravou cada linha de beatbox separada, e deu pra tratar muito bem todos canais e tocar instrumentos sobre a estrutura sonora. Está um som muito bom de ouvir!”, ressaltou DGO.

Durante o período que passou na Finlândia, Diego MP3 lançou o documentário “De onde vem esse som”, que aborda o beatbox brasileiro e busca divulgar mais essa arte e os praticantes deste elemento da cultura Hip Hop. “I have a dream” é mais uma peça dessa construção biográfica e da história e vivências do estilo.

Eu acredito que a cena dos beatmakers e beatboxers está em ascensão. Olhando de uma forma mais popular em relação aos que se iniciam nas aventuras de produzir, e vendo de uma forma de dentro da cena, é de suma importância a atuação e o reconhecimento desses artistas. Vejo muitos deles que além de produzir também rimam e vice e versa, é um trampo que soa como característica de cada produtor, tem muito nome foda no cenário. Ainda bem que o Sul de Minas também tem seu lugar, representados por vários ‘trinca ferro’!”, afirmou DGO.

Na terceira faixa, o canto que anuncia o clamor por liberdade no título “Sorta os passarinho pelo amor de Deus”, identificado já na introdução um sample de viola sertaneja acompanhada por versos da dupla mineira da década de 50 Silveira e Barrinha, o que nos remete a um forte sentimento de regionalidade, que deixa claro o peso da cultura, das vivências e do cotidiano mineiro no trabalho do Trinca Ferro.

O compromisso com a ZR (zona rural) e a busca por propagar a cultura regional são marcas claras no trabalho desses artistas:

“A sigla ZR veio mesmo com essa proposta de explicitar muitas das nossas vivências que passamos no interior do terceiro mundo, e não precisar estar em grandes capitais para que possamos fazer bons trabalhos”, comenta DGO.

Além da presença dos fortes traços regionais, o EP consegue também se conectar ao contexto atual em questões sociais, políticas e culturais. Através da caneta os artistas prestam saudações ao Mestre Moa do Katendê, questionamentos quanto ao caso Fabrício Queiroz, e até uma brincadeira com a teoria da Terra Plana nos versos da terceira faixa “A Terra é Planta”.

Com todas essas representações sobre liberdade, regionalidade e natureza, o EP também se coloca de forma relevante ao debater temas importantes sobre realidades que temos vivido.

O produtor executivo Rômulo Spuri também trabalhou no projeto, com um planejamento de pós e também na identidade visual.

Trinca Ferro, o EP de lançamento do trio, está disponível no YouTube e em agosto estará em todas as plataformas musicais.

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