Atualizado: 4 de Set de 2020
por Gustavo Silva
A banda Seletores de Frequência tem uma trajetória na música brasileira de mais de 15 anos, grande parte desse tempo dividindo uma caminhada com o cantor e compositor BNegão, que resultou em três grandes obras sonoras, altamente admiradas e recomendadas por este que vos escreve, que são os álbuns Enxugando Gelo (2003), Sintoniza Lá (2012) e TransmutAção (2015).
Desde os primeiros trabalhos a banda explodiu uma energia instrumental em seus lançamentos que destacou o som dos Seletores de qualquer outro exemplo musical brasileiro, e trouxe características únicas para o grupo. Em 2016 a banda solta o EP SF com quatro faixas totalmente instrumentais, abrindo o caminho para o novo horizonte dos Seletores, onde a potência vocal é transmutada em instrumentais hipnotizantes.
Chegamos então ao fatídico ano de 2020, cheio de esperanças, dúvidas, perdas e surpresas, entre elas o lançamento do quarto álbum dos Seletores de Frequência, e o primeiro da nova fase da banda, Astral. O trabalho que chega em um momento em que todos buscamos boas vibrações, pelos mais diversos fatores, teve um longo processo de criação para trazer essa energia tão boa, como a injeção de positividade que estamos todos precisando.
Em entrevista à Straditerra, Pedro Selector comentou que a gravação de Astral teve início em 2017. “Foi um disco que a gente foi fazendo em etapas, até a gente ter tudo pronto no final do ano passado. Foi um disco feito sem pressa, com tempo de respiro entre as sessões e acredito que isso influenciou bastante no resultado final”.
Finalizada as gravações, estava na hora de dar nome pras músicas, fechar a ordem e batizar o disco. “Eu estava buscando uma palavra que traduzisse o sentimento geral do disco, não queria dar um título extenso, comentava isso direto com meus parceiros de banda. Nessa busca, eu lembrei de um disco que eu curto muito, o ‘Astral Weeks’ do Van Morrison e bati o martelo pro nome. Por ser uma palavra que também tem diversos significados, por trazer uma sensação de positividade no meio do caos que a gente vive”.
No final de 2019 o álbum já estava pronto, mas a banda não tinha nem ideia do que esperava por nós em 2020. “Assim que o álbum ficou pronto optamos por segurar um pouco e planejamos lançar depois do Carnaval de 2020. Com a pandemia, acabamos retardando um pouco o lançamento, mas resolvemos que seria importante ele vir nesse momento, já que não temos ideia de quando será possível tocar ao vivo de novo, pelo menos deixar as músicas existirem e circularem, trazendo boas vibrações pra todo mundo nesse momento complicado”.
Quatro anos após o último lançamento da banda, Astral representa uma grande carga evolutiva para as criações dos Seletores em vários sentidos, com um álbum de 11 faixas inéditas pensadas de forma totalmente instrumental. “No EP de 2016 a gente aproveitou músicas que acabaram não entrando nos discos com o BNegão. Acho que duas delas são ainda da época do Sintoniza Lá e as outras duas do TransmutAção. Eram músicas instrumentais, mas com a intenção de ter uma voz ali, em algum momento. Já o Astral foi todo pensado como música instrumental mesmo, desde o primeiro momento que a gente se juntou pra definir o repertório. Outra coisa importante foi que a gente quis trazer só material inédito, sem querer versionar músicas já lançadas. Então, eu sinto que a evolução está aí, da gente conseguir pensar e realizar um disco totalmente inédito e composto com esse pensamento de ser instrumental, do início ao fim”.
O álbum também trouxe uma abertura para apresentar ao público o protagonismo e a importância do trabalho de composição da banda. “Em todos os trabalhos com o BNegão a gente sempre atuou como compositor. A parte das letras sempre foi do Be, mas na parte musical a gente sempre contribuiu bastante em todos os discos. Mas isso acaba não aparecendo porque não se fala muito disso, as pessoas se ligam muito no cantor ou intérprete e não se liga que tem mais gente envolvida ali pra que as músicas sejam o que são”.
Com Pedro Selector no trompete, Robson Riva na bateria, Bruno Pederneiras no baixo, Sandro Lustosa na percussão, Marco Serragrande no trombone e Gilber T na guitarra, os Seletores prezam pela coletividade no processo de composição. “Por mais que alguém venha com uma ideia meio pronta, na hora que junta todo mundo as coisas sempre mudam, tomam novas formas, o que é extremamente benéfico pra sonoridade que a gente tá buscando. Por exemplo: ‘Trem do Cão’ era um tema que eu tinha escrito mais de 15 anos atrás, e tava encostado, nunca tinha conseguido levar pra frente. Eu tinha a melodia e a harmonia mais ou menos definida. Daí mostrei a ideia pra banda e a coisa começou a andar. Primeiro virou um ska, mas ainda assim não tava ficando legal, daí o Sandro Lustosa, percussionista, começou a colocar um 6/8 ali, eu fui modificando a maneira de tocar as frases no trompete e a música foi surgindo até a gente fechar a versão final. Ou seja: esse trabalho coletivo foi de extrema importância em todo o processo criativo de ‘Astral’. Algumas ideias saíram de jam sessions, ‘Boca Maldita’ foi uma delas. A gente tocou em Curitiba com o BNegão e começou a rolar um groove na passagem de som, alguém registrou com o celular e acabou virando a música. O embrião dela foi gerado numa passagem de som, claro que depois, em estúdio, a gente foi desenvolvendo ela”.
Com Astral os Seletores de Frequência fincam a bandeira da sua identidade na música nacional, e assumem a vontade de explorar o lado instrumental da banda para além da brilhante parceria com BNegão. “Todos os três discos com o Be tem temas instrumentais. A ideia sempre foi da gente poder desenvolver os Seletores de Frequência para além do trabalho com Be, já que a gente sempre sentiu uma necessidade de trazer esse lado instrumental mais à tona. E também, da mesma maneira que o BNegão sempre buscou fazer coisas sem os Seletores, a gente também precisava fazer coisas sem ele pra poder justificar nossa existência e deixar um pouco de ser ‘a banda do BNegão’ e ser uma banda mesmo. Acredito que com ‘Astral’ a gente tenha conseguido isso. Gerar um disco completo, que tenha a nossa cara, a nossa digital ali, sem buscar copiar, fazendo a música pela felicidade de fazer. Por isso que o disco dialoga com estilos musicais diferentes, tem Funk/Soul, Samba-Jazz, Reggae, influências ciganas, africanas, mas sempre buscando manter uma estética dos Seletores de Frequência na jogada”.
Esse lançamento foi um grande respiro de boas energias em um momento tão caótico para todos nós. E os renovados Seletores de Frequência estão com gás para a nova caminhada da banda. “O meu maior desejo – e acho que de todos os músicos do mundo – é poder voltar a tocar ao vivo, fazer show. Eu quero muito, quando isso tudo melhorar, que a gente possa circular com o show do nosso disco pelos quatro cantos do mundo. Pro ano que vem, a gente deve lançar o álbum em vinil, sempre quisemos ter uma versão física e nada melhor que uma edição em vinil, já estamos trabalhando nisso. E também queremos voltar a nos reunir pra poder trabalhar em novas músicas, manter as ideias sempre girando e se renovando”.
Lançado em 19 de junho de 2020, o álbum Astral dos Seletores de Frequência está disponível no YouTube e em todas as plataformas de streaming.
Formação do EP
Pedro Selector: trompete Robson Riva: bateria Bruno Pederneiras: baixo Sandro Lustosa: percussão Marco Serragrande: trombone Gilber T: guitarra
Participações especiais:
Pedro Dantas: baixo (em todas as faixas) Bidu Cordeiro: trombone (em todas as faixas) Thiagô Queiroz: sax-barítono (em todas as faixas) Rodrigo Pacato: percussão (nas faixas 1, 3, 4, 6, 7, 8, 9, 10 e 11) Roberto Pollo: teclado (nas faixas 4, 5, 8 e 9) Gilbert T: guitarra (nas faixas 2 e 11) Todas as músicas compostas e arranjadas por Seletores de Frequência Produzido por Estevão Casé Gravado e mixado nos estúdios da Rockit! – Rio de Janeiro Assistente de gravação: Sarah Abdala Master: Fabiano França Arte por Rafo Castro Release por André Mansur Esse disco é dedicado ao nosso irmão Fabio Kalunga
Contato: seletoresdefrequencia@gmail.com Insta: @seletoresdefrenquencia