por Gustavo Silva
Projeto colaborativo entre Straditerra e JODO propõe intervenções de artistas por meio de
“Queria escrever um poema sobre dias livres,
mas são tempos difíceis para a liberdade…
Até quem luta por ela quer ser dono de alguém.”
(Sérgio Vaz)
Sérgio Vaz é conhecido pelo mundo como o cara que transformou a literatura em algo íntimo da periferia brasileira. É o responsável por organizar, no extremo sul da zona sul de São Paulo, o Sarau da Cooperifa, que tanto fez por despertar o interesse da literatura em comunidades periféricas, quanto por garantir o acesso à cultura literária e, por consequência, contribuir para a emancipação do pensamento nas periferias.
“Entre polêmicos e acadêmicos, minha tese é popular
Intelectual orgânico também tem pra trocar”
(P.MC)
Em comunidades marginalizadas da nossa sociedade, o acesso limitado ao conhecimento e o livre pensamento é um método aplicado e alimentado pelas estruturas e projetos das elites, que avaliam como ameaça um povo que reconhece seu espaço, sua voz, seus direitos, e age para mudar o ambiente e a realidade que lhes foi dada através da cultura.
“Eu observo, não sou servo
Prefiro morrer de pé, ou plantar novas sementes
Pra não mais colher café”
(Dais)
Sérgio Vaz encontrou na poesia e na literatura, a brecha para despertar e conduzir às periferias o raio de sol do livre pensamento, da emancipação do conhecimento. E buscando ampliar cada vez mais essa difusão cultural possibilitada pelas diversas formas de arte, surgiu o projeto Pilulaspoken, desenvolvido em conjunto pelas produtoras Straditerra e JODO, que propõe curtas intervenções, pílulas, de poesia falada por artistas da poesia.
“Aprendi que se salva vidas
Aprendi que se consola
Pegando numa caneta
E não numa pistola”
(Preleção Kenyatta)
O projeto foi iniciado no ano de 2017, e três anos depois totaliza 25 episódios, que contam com a participação de 21 artistas de diversas cidades de Minas Gerais e São Paulo, como Santa Rita do Sapucaí, Três Pontas, Três Corações, Guaxupé, São Thomé das Letras, Poços de Caldas, São Bento do Abade, Taubaté, Boa Esperança, Lavras, Juiz de Fora e Alfenas.
“Nas bordas da cidade
Defendo a comunidade
O rap de verdade: poesia e dialeto”
(Humberto)
A proposta do projeto é em cada episódio trazer um artista para transmitir sua poesia com total liberdade temática mas com curta duração. A intenção é unir a difusão cultural com a tendência do consumo de conteúdos rápidos e sintetizados, mas sem perder a essência da mensagem a ser transmitida, exigindo precisão dos artistas e destacando a qualidade da arte desenvolvida por cada um.
“Os paradigmas tão sendo destruído
Eu sou preto,
Além do mais, sou meu próprio ídolo”
(Rodrigo)
Os quatro primeiros episódios do projeto foram organizados em um formato especial de homenagem ao rapper, pedagogo e arte educador P.MC. Representante da velha guarda, membro do grupo Jigaboo e eterno combatente de injustiças, o artista explora em sua fala temas como o extermínio da juventude negra e a intelectualidade popular.
“Bato no peito, firme sem rastejo
Carolina me tirou do quarto de despejo”
A partir do episódio 16 o projeto alterou a sua dinâmica, devido às medidas de distanciamento social e isolamento criadas pela pandemia do Covid-19. Os artistas passaram a gravar seus próprios vídeos, e alguns aproveitaram o contexto para trazer crítica e apoio aos dias de isolamento, através da poesia, traduzindo as incertezas e indignações com a arte falada.
“Tenha calma menina
Não pare de sonhar
Que depois dessa tempestade
Dias bons vão chegar”
(Isahook)
O projeto até o momento já contou com artistas como P.MC, Diego Dais, MC Fattah, Preleção Kenyatta, Humberto, Rodrigo, Tony Martins, Marquinho Lock, Ovtra Percepção, Xavier Poeta, Ralph, Grilo, Will Jay, Cleitinho, Isahook, Mc’Az Carrot, Inquieto, Uhsaga, Barra Beats, Carol Leite e Syqueira.
“Até quando?
A miséria e a injustiça, serão protagonistas do nosso cenário
Até quando?”
(Carol Leite)
Por meio da poesia falada, o projeto Pilulaspoken e os artistas, buscam difundir a cultura do hip hop, da literatura, da poesia, e despertar o prazer pela criação e a liberdade de pensamento, que tanto se mostra necessário nos dias atuais. Os poetas fazem a gentileza de recitar e a comunidade faz a gentileza de ouvir.
“A Poesia
é o esconderijo
do açúcar e da pólvora.
Um doce
uma bomba
depende de quem devora.”
(Sérgio Vaz)