O Samba-Hop de Dabliueme que bate um papo com Aldir Blanc

por Samuel Rabay

Cirúrgica a canção do artista Dabliueme relacionando a realidade em torno da lei de medidas emergenciais para o setor cultural durante a pandemia da COVID19 e o que representou Aldir Blanc para a música brasileira. Especialmente cirúrgica, pois o próprio Aldir Blanc estudou na Escola de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro e especializou-se em psiquiatria (o que poderia nos auxiliar a compreender a loucura que tem sido sobreviver no setor artístico em 2020) antes de largar a profissão para tornar-se compositor.

O single vem no melhor estilo bossa/samba suingado, com um grave caprichado e uma letra cheia de acidez e trocadilhos sagazes lançados à la gafieira. Dabliueme, um músico que vem do Hip-Hop, reggae e dub, solta um vocal que transita por esses estilos e vez por outra deixa esse tempero ragga aparecer no seu sambahop. Uma coisa meio Marcelo D2 ao fusionar essa seleção de ritmos negros com louvor. Uma faixa elegante, eu diria, como o próprio Aldir Blanc. Não a “elegância” capitalista das madames e revistas de moda: a elegância do sambista, elegância do malandro.

“Sempre fui fã do Aldir quanto compositor, e ele nunca era lembrado em vida, acompanhava os videos caseiros que gravavam dele nas mesas de botecos, ele sempre cantando visceralmente, e logo após a vinda do corona vírus o cara morre e vira nome de Lei federal, aí todo mundo fala do cara e nem sabe quem ele foi…” Comenta Dabliueme

Reggae e Hip-Hop são estilos historicamente ligados a crítica social, Aldir Blanc era um poeta contra a ditadura militar, então juntar isso tudo pra meter o pau no desgoverno que vivemos faz todo o sentido. Não posso deixar de mandar Regina Duarte à merda nesse texto, que à frente da secretaria de cultura do governo Bolsonaro, sequer se pronunciou sobre a morte de Blanc.

O fato é que Aldir virou lei, lei que virou bagunça (como de costume no nosso país) e Dabliueme transformou tudo isso em samba novamente. Um suspiro para minha segunda-feira que começou repleta de burocracias, sites governamentais e números de telefones que não existem na tentativa de conseguir o tão falado Auxílio Emergencial da Cultura (me desejem sorte). Como diz Dabliueme no som: “a burocracia é inimiga do samba”

Sobre seu processo criativo nessa obra, Dabliueme ainda diz:

“Eu já estava com algumas coisas entaladas na garganta sobre mainstream, mercado fonografico e essas coisas enlatadas e vomitei tudo nesse samba”

P.S. no final entra um sample de Querelas do Brasil (composição de Aldir, imortalizada na voz de Elis e repleta de brasilidade) e o som trava, como se fosse um vinil arranhado ou um cd sujo. Levei um susto, até voltei a música para ver se não era um erro do youtube, mas depois entendi qual disco estava riscado.

“O Brazil tá matando o Brasil”

É meu amigo Aldir Blanc

“É olimpico ser artista no brasil”

A identidade visual do som foi desenvolvida pelo Pedro Salles e produção executiva por Rômulo Spuri.

Siga Dabliueme nas redes sociais: @dabliueme

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