por Gustavo Silva
Salve, rapa! Gustavo por aqui trazendo mais uma entrevista para todos vocês que acompanham, apoiam e amam a cena do rap regional. O nome da vez é um MC foda de Três Pontas: o mano Mahgo!
Com um repertório de puro suco do trap, com muitas influências do funk, em vários sons lançados no YouTube, com faixas que completam o álbum ainda a ser lançado MCMXCVIII, Mahgo traz na voz e na caneta a carga de ser exemplo pra uma quebrada com a qual ele divide o sonho e a missão de fazer muito mais do que dinheiro.
Troquei uma ideia com o Mahgo, sobre seu trampo, sua quebrada, seu repertório musical, projetos, sonhos e a arte que esse MC carrega com críticas sociais, vivências e muita revolta, de quem se alimenta todo dia da vontade de vencer.
Straditerra: Pra começar mano, eu queria que você falasse um pouco sobre os seus primeiros contatos e sua relação com a música. Como você entrou nesse universo da arte até começar a produzir rap?
Mahgo: Primeiramente, quero agradecer a vocês da Straditerra, o Spuri por essa oportunidade de trocar uma ideia e de possibilitar que o público me conheça.
Boa parte da minha família paterna é cristã e alguns primos são músicos. Cresci vendo aquele ambiente, era lindo o coral, o grupo de jovens, vários instrumentistas e assim foi surgindo a vontade de conhecer e aprender mais sobre música.
Meu primeiro contato com o rap foi aos 4 anos de idade. Eu sempre morei em periferia e em frente à minha casa tinha vizinhos que ouviam muito Facção Central, Racionais e muito rap gringo. Lembro das roupas que vestiam, do modo de falar e andar, bem no estilo dos rapper dos anos 90. E lembro que em todos os fins de semana, esses vizinhos colocavam caixas de som na calçada e rodavam algumas fitas pra tocar.
Era muito rap antigo, muito hip-hop dos EUA e França. Falo de 2002 até 2007, onde foi o período mais impactante pra mim. Meu pai não deixava a gente ir na rua quando esses vizinhos estavam lá com o som ligado. Eu sempre espiava por uma fresta que tinha no portão e ficava horas lá curtindo o som.
A partir de 2007 comecei a interagir mais com minha família materna e ter mais contato com o Funk. Minha família sempre foi fã de R&B e isso me marcou muito e contribuiu pra musicalidade que tenho hoje. Aos 9 anos de idade comecei a cantar na igreja e fiquei ali até os 12. Quando vi que minhas ideias não eram as mesmas eu saí, virei MC de Funk por algum tempo e logo depois montei um grupo musical com dois colegas de escola.
Quando fiz parte desse grupo, toquei muito MPB, Reggae e até Sertanejo. Mas minha paixão pelo rap sempre falava alto e eu sempre encaixava algumas músicas no nosso repertório. Nessa época ouvíamos muito Criolo, Black Alien, Filipe Ret, Nação Zumbi e Planet Hemp.
A partir de 2015 fiquei mais focado no rap, já possuía várias composições, mas não lançava nada. Por não ter acesso a estúdio e por não saber como funcionava o mercado fonográfico. Surgiu a vontade de gravar e não havia recursos. Daí então uni forças com o meu irmão mais novo e montamos nosso pequeno home studio no início de 2020. E hoje sou muito grato por tudo o que venho aprendendo, e pra mim foi minha maior conquista musical até hoje.
Straditerra: Mano você é de Três Pontas, né? E a gente sabe que apesar de faltar reconhecimento ao sul de Minas, a região tem uma cena cheia de artistas muito fodas. Queria que você passasse a visão de como é o cenário do rap, e da cultura hip hop aí na sua quebrada em TP.
Mahgo: Três Pontas é uma cidade cheia de talentos incríveis porém com pouca visibilidade. Em relação à cena do rap não é diferente, mas o que falta mesmo é união. Mas tem uma galera aqui muito massa e com um flow diversificado.
Um dos caras que boto muita fé é o Giovani Alves vulgo Menor. Ele é o maior campeão da Batalha do Centenário, uma batalha de rima que rolava aqui na cidade. Também tem a Pam Sanchez, mina firmeza demais, com uma lírica pesada. Temos o MC Gusta que é funkeiro e que agora tá embarcando no trap e se saindo muito bem. Temos o Emanoel (Goulart Beats) que é jóia rara, produtor e tem uma voz belíssima.
E um destaque que ainda não tá nas mídias mas em breve eu sei que vai rolar é a BePaccini que é uma mina que canta pra caralho, tem uma musicalidade muito foda. Temos New Flow, Wil Jay, MC D.É, Breno Barra, que estão aí na caminhada. Cada um no seu corre, cada um na sua vibe. Posso dizer que essa é a cara do rap de Três Pontas.
Straditerra: Falando mais sobre o seu trampo agora mano. Desde 2019 você já tem uma série de lançamentos no YouTube, que começaram com Preto, Trans, Praga. E nesse primeiro som você já carregava na caneta toda uma vontade de mostrar sua arte, mostrar a vivência de uma quebrada da qual você busca ser exemplo, e com umas porradas líricas que obrigam quem tá ouvindo a prestar atenção no papo. Queria que você falasse um pouco sobre esse primeiro som, e toda essa identidade da sua quebrada que marca com muita força os seus trampos.
Mahgo: Preto, Trans, Praga, é o reflexo de quem eu sou, o reflexo do que vivo e do ambiente em que vivo. Sou um homem trans negro de periferia. Eu cresci em um bairro rotulado como violento. Tive experiências hostis, vi amigos serem assassinados, conhecidos suicidarem. Alguns manos e familiares na prisão. E enfrento na pele todos os dias a transfobia e o racismo.
Esse som trouxe a tona o grito de ‘foda-se’ que estava guardado a muito tempo em mim. O que realmente significa é que eu não me importo com o que as pessoas pensam sobre mim e o quanto elas me odeiam por ser quem sou. Eu simplesmente sou.
E é essa minha vontade de ser que faz com que eu não desista de lutar pelos sonhos que tenho. Minha ambição cresce a cada dia mais. Cada perda, cada frustração só alimenta a minha fé e a minha vontade de vencer.
Sinto que tenho uma missão e não é somente ficar rico com a música kkkkk. Mas sim retribuir e devolver ao universo as dádivas que ele me concede. E poder realmente tocar as pessoas com o meu som.
Straditerra: A produção musical também é uma parte forte do seu trabalho, né mano. Tanto com o selo Goulart Beats quanto com a Mahgo Produções você tem esse trampo na produção de sons seus e de outros artistas da sua quebrada. Queria que você falasse sobre essa parte do seu trabalho com o Goulart Beats e a Mahgo Produções.
Mahgo: O selo Goulart Beats veio com a finalidade de integração entre o rap e a minha comunidade. Buscamos atrair as pessoas da nossa quebrada para os interesses musicais. De início criamos um projeto meio comunitário onde gravamos muitos artistas com nossos próprios recursos.
Produzir era um sonho pra mim. E ainda mais ao lado do meu irmão, se tornou mais especial ainda. Há algum tempo eu me afastei das produções pra focar em meus projetos e acho que essa responsabilidade de produzir vai ficar pro meu irmão mesmo. Ele é extraordinário em tudo o que faz, e sua musicalidade tem agregado muito no meu processo criativo. Estou muito feliz e grato por tudo o que conquistamos juntos.
Straditerra: Pra fechar mano, queria que você falasse sobre o álbum MCMXCVIII, que já tem algumas faixas lançadas no seu canal. A gente pode esperar uma data de lançamento oficial desse trabalho? Tem mais detalhes para passar sobre esse trampo, ou sobre próximos projetos que podemos esperar pra um futuro próximo do Mahgo?
Mahgo: MCMXCVIII é um álbum que reflete um período da minha vida em que eu buscava uma direção. Ele traz uma mistura de toda a musicalidade que eu tenho. Contendo músicas de críticas sociais, autocrítica, minhas vivências, ambições e muita revolta. Utilizando beats autorais e free use.
Decidi segurar um pouco o lançamento. Tô soltando algumas faixas isoladas, eu ainda não sei o que se passa na minha mente. Tenho muitos projetos e é algo que complica quando não se tem disciplina. Mas garanto que lanço o álbum completo até o fim do ano.
Alguns projetos atrasam, outros ficam à deriva, mas estou sempre trabalhando. Tenho um novo projeto mais na pegada UK Drill/Grime, que é uma pegada que tô ouvindo e curtindo muito. Estamos focados na formação de uma MOB, já produzimos alguns sons em grupo e em breve estaremos com novos lançamentos.
No mais, viso crescer musicalmente e estou me preparando para entregar algo melhor para quem me acompanha. Agradeço a todos os que fecham comigo. Progresso e fé pra todos!
Acompanhem os lançamentos e essa caminhada exemplar do Mahgo no YouTube e nas redes sociais.