Conheça a potência da skatista, cantora e beatmaker Janvi

por Gustavo Silva

Salve salve, Gustavo de novo por aqui! E dessa vez eu chego pra destacar o corre de uma mina nascida nos limites do Brasil, Argentina e Paraguai e filha de pai indiano. Artista independente, compositora, cantora, beatmaker e skatista integrante do coletivo Britney’s Crew, hoje é dia de conhecer a correria da Janvi.

O nome de origem indiana, que significa cheia de vida, remete à nacionalidade da família do pai, que com 22 anos se mudou para o Brasil. Nascida em Foz do Iguaçu no Paraná, Janvi sempre foi uma criança muito artística, que gostava de fazer coreografias, escrever, escutar música.

Nessa parte o meu pai trouxe várias referências pra mim como o jazz, além das coleções de CD e de conversas dele, que sempre apresentava influências externas que eu talvez não conheceria sozinha. Ele tem uma paixão pela música bem grande”.

Incentivada pelo pai desde cedo a escrever, ela já traduzia seus pensamentos em belas palavras e lançava poesias em um blog aos 10 anos. O gosto pela escrita dividia espaço com o amor pela música.

Desde pequena eu cantava na igreja evangélica. Com oito anos de idade eu tava lá cantando com o playback da Cassiane e de várias outras cantoras gospel”.

Tudo isso foi levando Janvi pra um caminho onde ela se encontrou: o skate, as referências do pai, a escrita.

Tudo isso foi formando a minha identidade e eu fui buscando cada vez mais esse caminho”.

Trocando poesias e letras de músicas autorais com amigos que faziam parte de grupos de rap em Foz, como o Gustavo Dz e o Frasson, Janvi ainda não via o Hip Hop como um espaço aberto e possível para ela.

Naquela época, eu devia ter uns 16, 17 anos, eu ainda não tinha a visão de que eu também podia fazer aquilo e viver daquilo, enquanto aqueles meninos sabiam desde pequenos que era algo que eles poderiam fazer. Então o machismo e outras várias inseguranças que surgem para nós como mulher, fazem a gente acreditar em nós mesmas só depois de muito tempo”.

Já escrevendo e cantando seus trabalhos, Janvi se aproximou da cena e conheceu mais de perto a produção musical, produção de beat e conviveu muito tempo com os produtores que colavam pra fechar parceria.

Nesse momento eu vi de perto e entendi que meus trabalhos não estavam conseguindo ser finalizados porque dependiam sempre de um homem, ou de alguma outra coisa para eu conseguir lançar meus trampos. Então eu fui estudando, tentando guardar um dinheiro, pra eu conseguir ter essa independência e foi a partir daí que eu comecei a emergir na produção, já em 2018”.

A origem indiana e brasileira, carregada de diferentes referências culturais e geográficas, influenciam diretamente no processo de criação tanto musical quanto escrito da Janvi, que traz um repertório rico de influências.

Novamente, o meu pai, sempre fez questão de me trazer várias influências maneiras de espiritualidade, de questionamento sobre o universo, sobre o mundo, sobre o ego. Toda essa questão cultural da espiritualidade que vem da origem indiana do meu pai, é um lado que está muito presente na minha escrita e nas minhas ideias”.

Pra além disso, a origem indiana trouxe para Janvi influências pra refletir sobre questões como o machismo.

Eu tive a oportunidade de conhecer os meus avós na Índia, e a gente pode perceber que, assim como o Brasil, é um país com estruturas muito machistas. Isso me motiva a falar sobre essa questão de ser mulher, de ser uma mulher de cor, e lidar com as consequências do racismo no Brasil, e em todo lugar”.

Ainda que com um pai indiano, as maiores referências musicais que Janvi recebeu são de obras e artistas brasileiros, que garantem a ela um repertório de diversos trabalhos lançados como poetisa, cantora e beatmaker. E em 2020, numa parceria com o Honorato, Janvi lançou o seu primeiro single, Sonic Humano.

Essa parceria foi muito importante pra mim, e tenho certeza que pro Honorato também, porque eu vejo que a gente se encontrou. A gente se conheceu em um evento no Rio de Janeiro, a Hi-Hat Sessions que eu sabia que seria o lugar onde eu ia finalmente encontrar a minha galera. Aqueles beatmakers que saíram da caverna, tão trancados há meses dentro de casa fazendo som, escutando, pesquisando e se encontraram naquele evento. Eu consegui apreciar o som de vários produtores muito fodas e conheci o Honorato. A gente trocou uma ideia, bateu essa afinidade do som, de pesquisa, a gente se encontrou depois e foi uma conexão muito maneira porque nós dois estávamos em um momento de desesperança, procurando uma inspiração”.

Dessa conexão profunda de sonoridade e escrita, desse encontro inusitado e muito especial saiu Sonic Humano, um som carregado de boas energias, feito no começo da quarentena, que apareceu como uma faísca de esperança e motivação para Janvi e Honorato continuarem fazendo o seu trampo. Além do single, a parceria rendeu várias outras faixas que vão ser lançadas em um futuro EP.

O projeto com o Honorato eu tô trabalhando com muito amor e muito esmero, a gente tem um EP já engatilhado além de vários outros sons que estão pra sair”.

Para além da arte, Janvi tem uma identidade forte com o skate, inclusive fazendo parte do Britney’s Crew, um coletivo independente que faz um corre essencial pra cena do skate brasileiro. Criado em 2016, no Rio de Janeiro, o Britney’s Crew é formado por garotas skatistas espalhadas pelo Brasil, que organizam juntas, encontros, eventos, campeonatos, para divulgar, incentivar e empoderar outras mulheres na cena do skate.

Skatista há mais de sete anos, Janvi teve o primeiro contato com o coletivo em 2017, em um rolê pela Praça Roosevelt. Ela trocou contatos com as meninas do coletivo mas os anos passaram e elas acabaram nem se encontrando. Em Macaé (RJ) Janvi começou a dar rolê de skate com a Pipa Souza, e as coisas aconteceram.

Eu já conhecia ela, sabia que era muito foda, ela é uma referência pra mim. Aí ela me chamou pra um evento do coletivo no RJ e a partir da primeira vez que eu colei em um evento do Britney’s Crew elas me abraçaram com muito amor, e eu conheci um coletivo que abraça a comunidade LGBTQIA+, abraça pessoas para muito além do estereótipo, então desde o começo eu me senti integrada, parte da família”.

E o sentido de família aqui é real. Quando falamos em skate feminino não tem como deixar de salientar a importância deste coletivo, e do corre suado que essas minas fazem movimentando essa cena que sempre foi esquecida e nunca recebeu apoio.

É um coletivo que engloba artistas, fotógrafas, designers, todas com esse amor pelo skate, e que tá sempre fortalecendo, desde que eu comecei a mostrar os meus sons elas sempre fizeram questão de me ajudar na divulgação. Enfim, não tem nem o que falar dessas gurias, o trabalho delas é de extrema importância”.

E o skate também trouxe para Janvi várias referências do rap, como Sabotage e Racionais.

Um dia eu peguei o fone do Tatá – um amigo que sempre me incentivou muito no skate – e ouvi só os rapzão mais pesado que ele tava escutando, Sabotage, Racionais, então a partir do skate mesmo que eu me conectei com a música. Então ter conhecido um coletivo de mulheres me empodera muito na música, é muito importante para mim poder me identificar como parte desse grupo, e reconheço que é um coletivo ainda muito desvalorizado para a proporção de contribuições que essas minas trazem para a cena do skate no Brasil, que é empoderar as meninas e criar oportunidades que às vezes são fechadas pra gente em vários dos meios que são ditos masculinos”.

E com o primeiro single lançado em 2020 a Janvi ainda tem muito trampo pra apresentar pra gente.

Eu tô trabalhando em um projeto que surgiu lá em 2016 e ainda não tinha sido finalizado com meu mano OuvidoPai, que foi um dos responsáveis por eu ter entrado nesse mundo da produção. A gente conseguiu resgatar vários sons daquela época que a gente tava trabalhando junto, e se tudo der certo até o final desse ano, ou começo do ano que vem, a gente vai conseguir lançar um EP em conjunto”.

Além desses trabalhos vocês podem esperar da Janvi uma mulher que quer trazer muito a voz feminina, reivindicar através da poesia, através do Hip Hop, o espaço da mulher, a visão feminina acerca da política, acerca da vida.

Eu prezo muito por trazer essa mensagem de empoderamento, que seja positiva mas traga reflexão em um momento em que a gente tá precisando se desconstruir acerca de vários estereótipos, de lugares que não são concedidos para a gente. Então quebrar todas essas barreiras aí mano, de preconceito, de estereótipo, porque não é só um rosto bonito. Eu sempre prezei muito por cada palavra e cada mensagem que eu vou passar porque pra mim tem uma responsabilidade gigante, e eu acho que trazer essa mensagem de mim, sendo uma mulher, indiana, de cor, que anda de skate, que ocupa os ditos não lugares, que está sempre sendo testada, pra mim tem um peso gigante e uma satisfação muito grande. Então esperem de mim toda essa potência que tem na força de uma mulher”.

Siga Janvi no instagram: @originaljanvi

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Veja Também

Rádio 777

Lorem ipsum dolor sit amet, consectetur adipiscing elit. Ut elit tellus, luctus nec ullamcorper mattis, pulvinar dapibus leo.

[lbg_audio7_html5 settings_id='6']
[lbg_audio7_html5 settings_id='6']