Por Gustavo Silva
Salve família Straditerra, Gustavo aqui! Em abril deste ano, mais um grande nome do Rap mineiro, cuja trajetória já vinha chamando a atenção dos menos desavisados desde 2016, chegou para ocupar definitivamente seu espaço na cena, com o lançamento do seu primeiro álbum solo. Estamos falando do MC e beatmaker belorizontino Abu, e o seu disco “Vô”.
O respiro de Abu
Após uma série de ótimas parcerias e lançamentos como “Fotocópia”, com Felipe Filgueiras e “Cru Vol.2” com Cizco em 2018; o instrumental “Microbeatologia” de 2020, em parceria com Fumaça; além de várias faixas com outros beatmakers e cantores de BH, como Gurila Mangani, X Sem Peita e Bruno Afterall, Abu encontra o respiro em seu primeiro álbum solo.
Viajando do Lo-Fi ao experimental, a figura conhecida do Rap de Belo Horizonte construiu a atmosfera deste disco em sete faixas, contando com o apoio de nomes marcantes da cena mineira, como: Matéria Prima, Oreia, Rafael Fantini, Cizco, além do cantor e instrumentista francês Krißla.
E quando dizemos que Abu construiu este disco não é uma escolha qualquer de palavras. Além da composição das letras, Abu conduziu toda a produção instrumental, gravação, pré e pós-produção, finalização e mixagem de “Vô”, que contou também com a fina masterização do produtor belorizontino Fantasmatik.
Lançado pelo selo Xifuta Records, o trabalho que está disponível nas principais plataformas digitais, traz uma atmosfera Lo-Fi, com a musicalidade orgânica de uma mistura entre samples crus e instrumentação.
“O álbum tem a proposta de ser minimalista, de dar uma sensação de respiro. Quando criei as músicas, estava achando tudo muito carregado, tanto na vida quanto no som que eu escutava. E, na real, não imaginava o quanto tudo ia ficar ainda mais carregado. Tentei fazer uma parada com letras mais curtas e espaço para o instrumental. E fui experimentando levadas menos tradicionais nas letras, com elementos nos beats que trouxessem musicalidades mais orgânicas”, diz Abu, que também gravou cavaco, escaleta e sintetizadores para algumas das faixas.
Um salve aos parceiros
“Entre tantas formas de dizer saudade Do meu mano que tá em outra cidade Escrevi o verso que tem mais verdade E por essa música te mando um salve”
Rafael Fantini – Cama de Pregos
Além do mérito de toda a produção e o trabalho de construção de Abu, que criou uma atmosfera cheia de identidade neste disco, as participações e parcerias são um elemento muito forte em “Vô”.
Cantando a saudade dos amigos que vão buscar a vida em outras terras – sentimento tão presente nestes tempos de isolamento social, Abu contou com o salve de Oreia e Rafael Fantini na faixa “Cama de Pregos”, além de trazer o antigo parceiro e beatmaker Cizco, dessa vez nos vocais do refrão da faixa “Bandeira”.
“A música ‘Cama de Pregos’ foi criada num momento em que eu estava morando no Sul, em Florianópolis (SC). A parada da saudade já fazia parte da minha relação com os amigos de BH, como Fantini e Oreia. Mas é um sentimento que ganhou novos contornos com a pandemia, com certeza”, afirma Abu. Esta faixa recebeu também um clipe, de autoria de Felipe Malavasi.
Abu trouxe também a participação sempre marcante de Matéria Prima na faixa-título. Os artistas que inclusive já possuem uma parceria constante, como em Mabu, projeto no qual Matéria e Abu trocaram versos e visões sobre a vida e a música. Nesse projeto, a liberdade de escrita e estética é o foco para além de projetos paralelos dos MCs. Com a produção de Abu, os Raps do Mabu são, nas palavras da dupla, “uma quebra de correntes, uma fuga da ditadura do mesmo”.
“Eu e o Matéria Prima temos feito vários trabalhos juntos ultimamente, como Mabu. Trocamos muita ideia sobre música, eu mando vários beats para ele e essa música saiu de um deles”, conta Abu.
O disco traz também a presença internacional do cantor e instrumentista francês Krißla, em “Garoa Fina”. “O Krißla é um camarada francês que é baixista de Reggae, que conheci em Florianópolis, por acaso. Nosso diálogo musical deu muito certo, gravei umas faixas dele”.
Em “Vô”, Abu afirma sua identidade e ocupa seu merecido espaço na rica cena belorizontina com o seu primeiro álbum solo. O lançamento também é especial por ser o primeiro disco assinado pela Xifuta Records, selo criado por Abu, que busca a fusão dos beats eletrônicos com os grooves orgânicos, mirando o minimalismo e o experimental. O selo já lançou trabalhos como a faixa “Prefácio”, do projeto Dedo Primata, de Abu e Fábio Mukanya, cujo EP também sai neste ano.