Malandro é quem escuta: o novo single de HS como manifesto em camadas

“Malandro é o Artista” não é um single que se consome: é um som que se atravessa.

A nova faixa de HS, lançada após o denso e impactante Óleo, convida a uma escuta mais próxima, menos apressada. Nela, o artista mineiro caminha por entre batidas, silêncios e pensamentos — sem ceder à pressa nem ao didatismo.

Vindo do interior de Minas Gerais, mas imerso no ritmo vivo das ruas de Belo Horizonte, HS parece operar num tempo próprio, quase ritualístico. Não é o tempo do algoritmo — é o tempo da caneta.

A batida como respiração

Com produção assinada pelo próprio HS, o beat de “Malandro é o Artista” se destaca menos por pirotecnia e mais por coesão atmosférica. Cada batida é milimetricamente pensada como extensão da ideia, não como enfeite.

O Boom Bap pulsa como base, mas ganha cortes e camadas que fazem da música uma travessia em movimento. Há um grave orgânico — gravado em guitarra e manipulado no FL Studio — que soa quase como chão. A mixagem e masterização de Mejê finalizam o trabalho com precisão quase invisível: está tudo ali, mas nada sobra.

Letra que observa e recusa

A escrita de HS segue sua assinatura: madura, crua, sem ornamentos desnecessários. Ele não está interessado em performar consciência ou elevar a vivência a um lugar de exceção. Ele apenas narra. Mas nessa narração, há cortes como:

“Corri no baixo centro então, nada me espanta, tudo me espanca”

Essa linha, que poderia ser lida como uma denúncia social, é antes um reconhecimento do impacto da cidade sobre o corpo, mostrando que o artista não analisa a cidade, ele a sente. E essa sensação — de enfrentamento, cansaço e persistência — ecoa por toda a faixa.

A cidade como plano e personagem

Filmado em Belo Horizonte — Santa Tereza, Sagrada Família e Centro —, o audiovisual de Hudson de Assis traz uma estética de ruas e bairros. O artista aparece não como protagonista, mas como alguém que atravessa espaços e escuta seus sons.

Nada é encenado. As ruas não são figurantes. E a câmera não registra um lugar idealizado — ela capta os ruídos, becos, bares, os detalhes que passam despercebidos por quem só transita. A cidade é paisagem, mas também fala.

Complexidade como escolha estética

“Malandro é o Artista” não quer ser escutado entre duas notificações.

Ele exige pausa. Atenção. E oferece, em troca, um mergulho num território onde a malandragem não é pose — é sobrevivência simbólica, artística, emocional.

Em vez de buscar aprovação, HS parece propor uma escuta lateral. Um convite não para entender, mas para sentir — como quem ouve uma conversa na rua e carrega a frase por dias sem saber bem o porquê.

E no fim, é isso que faz do artista um malandro: a capacidade de transformar a travessia em linguagem.

“Eu acho que representa uma fuga dentro da realidade. Porque fazer música te transporta pro universo da canção, e a imersão é tão grande que por alguns minutos aquela é sua realidade, mas não alheia a que você vive, se não representada da maneira mais visceral possível. Então, pra quem tá correndo pra botar a arte na rua, conciliando com outros trampos (como é meu caso), a arte em si é o fim e o meio. A malandragem tá aí, em se motivar pelo que é, porque a arte da gente sempre é um pouco do que a gente é.”

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