Com lançamento do filme “OPUS I”, Barba Negra apresenta o seu novo álbum com faixa que homenageia referências que marcaram sua trajetória artística e pessoal
por Gustavo Silva
Na cultura Hip-Hop existem muitas figuras que marcaram e seguem marcando a história do movimento, pela importância das suas atuações artísticas, pessoais e sociais, e também pelo compromisso com a valorização da essência da cultura Hip-Hop no seu cerne desde sempre. O nome que trazemos aqui hoje é uma dessas figuras marcantes para o cenário nacional, que conta com uma trajetória longa e muito rica na música, pautada por importantes trabalhos pela cultura que consagraram, no underground e fora dele, o nome do MC Ralph.
Não sinto que deva ser necessário fazer as apresentações do MC Ralph, a sua história fala por ela mesma, e a importância de toda a sua atuação segue semeada até os dias de hoje. Vamos falar então sobre outras faces do artista, outras personalidades que Ralph foi descobrindo e apresentando como forma de trabalhar sua arte, e que seguem mantendo o seu legado valoroso no Hip-Hop com muito compromisso e identidade.
MC Ralph a.k.a. Barba Negra a.k.a. O Terrível Ladrão de Loops
Marcando a cena do Vale do Paraíba de onde é natural, MC Ralph foi um dos grandes nomes que a região trouxe para o Rap se firmando cada vez mais como um território efervescente para a cena nacional ano após ano.
Com uma atuação forte nas batalhas, o MC desenvolveu o freestyle como uma das suas grandes marcas, exploradas até hoje em suas apresentações ao vivo. Para além da arte do improviso, a arte de canetar versos certeiros e criar cenários e histórias muito vivas em poucas linhas, levou a atuação do MC longe e abriu novos caminhos para a sua forma de fazer arte, dando origem a novas personalidades.
Com o Barba Negra, o artista criou um diálogo estético entre o seu lado MC e o seu lado pirata, construindo obras fortemente aprofundadas nessa ambientação, renovando a caneta e entrega performática do MC e trazendo novos tripulantes para conhecer o extenso repertório pilhado pelo seu navio de rimas ao longo de todos esses anos. Para acompanhar essa caneta pirata, O Terrível Ladrão de Loops surgiu como o seu alter ego criador das suas novas produções, voltadas a trabalhar as sonoridades e estéticas do Boombap já conhecidas pelo artista, combinando com as referências musicais e culturais que fizeram e seguem fazendo parte da sua trajetória artística.
Com essa dupla, o artista trouxe grandes projetos nos últimos anos que se destacam pela qualidade e originalidade em suas entregas, como: A Ópera do Pirata, Braselda (com Mistah Jordan), O Pirata em Tokyo, Malbec e Fettuccine (com Mattenie), Loops e Mandingas (com Pirata Raíssa) e As incríveis histórias de: Underground Superhero Vs O Terrível Ladrão de Loops (com Akira Presidente).
“Ópera Parte II”: um disco/filme
Agora, em 2023, o pirata Barba Negra retorna aos mares do Rap acompanhado pelas produções d’O Terrível Ladrão de Loops, para entregar a segunda parte da sua ópera pirata, em um disco/filme.
“Nessa segunda parte da obra, na ‘Ópera Parte II’ eu resolvi eu mesmo assinar as produções. Essa parada de loop, de instrumentais de Rap sem drumkit, sem muito peso, sem bumbo, caixa e chimbal, isso me encantou lá em 2018 e por isso fiz o disco ‘A Ópera do Pirata’. Na época eu tinha acabado de comprar a SP303 (máquina clássica de samplear e fazer beats). Mas eu estava ainda inseguro pra rimar nas minhas produções. Encontrei o Sala 70 que tinha muitas bases nesse estilo e foi perfeito para criar aquela obra. Já hoje, 5 anos depois, vejo que aquela obra foi um marco no Rap Nacional por abrir um caminho que estava começando a tomar a cena no underground da gringa, mas aqui ainda não existia muito. Como produtor, consegui nesses últimos anos conectar muitos MCs e nomes fortes da cena para experimentar esse estilo de som. Mas eu precisava fazer um disco na mesma atmosfera do ‘Ópera’ comigo mesmo na produção. E agora, isso foi possível e demos início nessa nova jornada do pirata Barba Negra a.k.a. O Terrível Ladrão de Loops” – Barba Negra
OPUS I: referências e influências do pirata
Como primeira amostra, e anúncio, do seu novo trabalho, Barba Negra lançou “OPUS I”, uma faixa que já tinha sido lançada nas plataformas no fim de agosto e agora chega com um filme no YouTube.
Nessa faixa, Barba Negra traz diversas referências que fazem parte da sua trajetória de vida e artística e do seu repertório cultural, algumas delas até foram destrinchadas em conteúdos lançados nas redes sociais trazendo pistas sobre trechos da letra. Além de prestar homenagens a grandes nomes da cultura e às suas crenças pessoais, em “OPUS I” podemos sentir a potência das marcantes características da caneta de Barba Negra que já conhecemos em outros trabalhos.
“Chapando no fone com
um loop roubado e um verso xamânico
fazendo minha mente de ônibus
de Rap minha vida é sinônimo
meu reggae nunca foi britânico
meu DNA salomônico”
“Essa faixa ‘OPUS I’ traduz bem a intenção da obra: impactar! É uma lírica forte. Em um instrumental com um clima meio medieval, meio teatral, meio ópera mesmo. É o pirata afirmando suas referências. Apontando para suas influências. E ao mesmo tempo, se empoderando do espaço na cena. É mais uma fincada de bandeira no território do Rap Nacional” – Barba Negra
Com os loops respeitosamente roubados pelo O Terrível Ladrão de Loops, a produção dessa faixa carrega a estética musical do Barba Negra na linha Boombap/Drumless, que destaca a presença de instrumentais muito bem trabalhados e equilibrados com a cadência da letra que pode ser explorada de formas diversas neste ambiente sonoro criado por essa forma de produção.
“Essa parada do drumless é uma estética muito interessante para os MCs. Por não ter uma batida forte marcando os compassos, quem comanda o balanço da música é o flow do MC. Isso possibilita muita inovação. Além de valorizar muito o sample. O disco todo vem nessa linha. Com samples antigos de discos escondidos do baú do pirata, e uma lírica afiada para conduzir a história que tá sendo narrada” – Barba Negra
Outro destaque forte de “OPUS I” é o trabalho visual do filme realizado pela Confector Filmes, que potencializa a identidade estética do pirata através de elementos visuais marcantes nas águas do litoral norte de SP, com ótimas transições de cor e movimentos de câmera que criam uma ambientação muito alinhada com a produção da faixa.
“O audiovisual, o filme, é um espetáculo à parte nessa obra. Assim como no trabalho de 2018, estamos fazendo clipe de todas as 8 faixas do disco. Mas desta vez, a nossa intenção é que as faixas se unam ainda mais e nos tragam a noção de totalidade. Quando chegarem todos os clipes, tudo vai virar um filme só. Uma obra só. De uma maneira bem surpreendente na verdade. Estamos bem animados com a sensação que cada obra pode causar no ouvinte/espectador. Os meninos da Confector Filmes captaram muito bem o sentimento da música. A Atmosfera do Rap. E foram perfeitos no registro, na textura e na edição das imagens. A ideia era exatamente essa. Um Rap sujo. Uma cena suja. Pouca cor. Muito sentimento. Uma atmosfera mística. Muito inspirada na cena de abertura do filme ‘Brumas de Avalon’” – Barba Negra
Expandindo horizontes
Além do retorno do pirata aos mares do Rap, outra novidade na caminhada do artista é a recente parceria com a produtora Strads, que vem abrir novos trajetos para O Terrível Ladrão de Loops e o Barba Negra. “Faz bastante tempo que eu e o Spuri somos amigos. E desde sempre admirei o profissionalismo e a humanidade que ele trata tudo que ele faz. Desde os tempos de Straditerra. Agora chegou o momento de unirmos forças e realmente expandirmos nossos horizontes. Eu, como MC, selectah e produtor, estou bem maduro e consciente do que eu quero e onde quero chegar. E, pra mim, é por isso e pelo profissionalismo e amor pela cultura da Strads, que essa parceria promete tantos frutos bons” – Barba Negra
“Nem tudo que é bom filha da puta repercute”
A faixa/filme “OPUS I” está disponível nas principais plataformas de streaming e no YouTube. Acompanhe Barba Negra também nas redes para não perder o lançamento de “Ópera Parte II”, com previsão de lançamento para 22/11/2023 (exatos cinco anos após o lançamento da primeira parte, em 2018).
“Só quero agradecer a todos que sintonizam, acompanham e fortalecem o meu trabalho. Dizer que esse é o melhor momento criativo da minha carreira. Esses quase 25 anos trabalhando com o Rap formaram o meu caráter e me trouxeram aqui nesta condição de produzir algumas obras que considero muito relevantes para quem ama o Hip-Hop e a música. Só posso agradecer mesmo, todos que fortalecem e fazem esse trabalho ter uma visibilidade boa para atingir os olhos, ouvidos e corações” – Barba Negra