O que jazz aqui no coração do mangueboy?

Por Bruna Helena

Quando a vida aperta, aqui se acende, na chama do isqueiro, a luz das ideias, no ritmo brasileiro, maracatu atômico e rap, ser punk nessa caminhada é lutar pela essência no ringue dos que se matam pela grana. Entre grooves fortes, e em um cenário intenso, encontramos Dabliueme, em seu novo álbum, Aqui Jazz.

Do jazz ao samba, o artista canta e de fato cumpre, muito rap de primeira. Com samples clássicos e muito bem garimpados, e versos que fazem jus, como um mangueboy ele busca sua matéria prima na lama, e ali mesmo, nesse cenário sujo e forte, desabafa o que trás em mente: a vida complexa na arte brasileira, a burocracia assassina da criatividade, e do som, que estrangula e mata aqueles que se rendem á ela. Dabliueme aqui é resistência, resistência no que é ritmo e poesia, resistência nas trincheiras do que o rap nasceu pra ser, sem se entregar para referências estrangeiras e com o melhor da velha escola, com o pique de um menino de 10 anos que joga bola descalço num campinho de terra vermelha, sem medo algum de se sujar com seu jogo, joga limpo e ás claras, nem tão claras assim, já que aqui sabemos que se escurecer também vamos caminhar.

Na arte do mangueio, Dabliueme também se mostra eficaz, nos oferecendo seus sons, sem os transformar em meros produtos, não existe preço que pague o mangueio, isso é uma troca, as ideias e o coração do mangueboy, em troca das cabeças que batem automaticamente ao sentir o peso do seu maracatu. Esse corre todo, que se trás nos ombros, com uma das mãos marcando o bumbo, cansa, e nada descansa aqueles que se preocupam com o que acontece ao seu redor, a solução é o brinde, a música para celebrar as dores que constroem nosso sorriso, a febre que aquece o rastaman, é a febre que queima a pele do povo no sol, a febre que percorre o corpo quando se ouve o grave, a febre do ódio que diariamente destilam os que vêem com os olhos de dentro o que muitos não veem a um palmo do nariz, aqui se ouve a música que age contra os que olham apenas para o próprio umbigo, o artista se propõe a questionar as mazelas, ressaltar as riquezas e valorizar a bandeira que carrega, que é passada de geração em geração, mas que raramente acha alguém que a possa empunhar, a palavra é uma espada de poucos guerreiros, e sem dúvida aqui podemos encontrar um.

No coração do mangueboy encontramos as batidas certeiras, achadas entre vinis de música brasileira e raps dos anos 90s, papos concretos e diretos, sem curvas ideológicas, aqui as curvas se limitam ao baixo que trás o groove, e de resto se torna terminantemente fácil se deixar envolver por tanta expressão e movimento, mesmo sem sair do lugar, é fácil estar na lama, entender o mangueboy, seu motivos, razões, e como já dito, o peso do seu maracatu. Essa imersão está logo ali, na frente dos seus olhos, mas não pode ser somente vista, e ouvida, é necessário saber sentir, mesmo quando não se sabe, nesse álbum se torna simples e rápido aprender, basta abrir os ouvidos e abrir a mente, o resto todo Dabliueme trás, em Aqui Jazz, um álbum preciso e necessário nos tempos cinzas que que vivemos. Aqui jaz a luz que às vezes pensamos já ter sido apagada pela indústria, mas a música de verdade sem dúvidas se encontra na calçada, do lado de fora da caixa.

Ouça ‘’Aqui Jazz’’, álbum de Dabliueme.

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